O Segredo de Joe Gould
Joseph Mitchell
Prefácio:
António Lobo Antunes
Tradução: José
Lima
Capa: Miguel
Imbiriba
Publicações Dom
Quixote, Lisboa, Julho de 2002
- Desculpe, Sr, Gould – disse eu -, mas parece-me que
é melhor esquecer isto tudo.
- Oh, não! – Disse Gould. Parecia alarmado. – Oiça –
disse.
- Eu tenho uma memória inacreditável. De facto, já me
disseram muitas vezes que provavelmente tenho aquilo a que os psicólogos chamam
memória total. Já várias vezes perdi capítulos da História Oral e reescrevi-os,
e depois acabei por o encontrar e havia muitas páginas nos dois que coincidiam
quase palavra a palavra. Se fot ter comigo ao Goody’s hoje à noite, posso
recitar-lhe alguns capítulos. Posso recitar dezenas de capítulos. Se tiver
paciência para ouvir, posso recitar centenas. Ficará com uma ideia tão boa da
História Oral como se a tivesse lido. Tendo em conta a minha letra, pode até
ficar com uma ideia mais completa.
Nessa noite, por volta das oito, sentei-me com Gould a
um canto no fundo Goody’s. Primeiro, bebeu dois martinis duplos, ao que dizia, com um objectivo particular. «Cheguei à conclusão», disse ele, «que o gin liga a bomba da memória.»
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