sábado, 4 de novembro de 2017

OLHAR AS CAPAS


O Segredo de Joe Gould

Joseph Mitchell
Prefácio: António Lobo Antunes
Tradução: José Lima
Capa: Miguel Imbiriba
Publicações Dom Quixote, Lisboa, Julho de 2002

- Desculpe, Sr, Gould – disse eu -, mas parece-me que é melhor esquecer isto tudo.
- Oh, não! – Disse Gould. Parecia alarmado. – Oiça – disse.
- Eu tenho uma memória inacreditável. De facto, já me disseram muitas vezes que provavelmente tenho aquilo a que os psicólogos chamam memória total. Já várias vezes perdi capítulos da História Oral e reescrevi-os, e depois acabei por o encontrar e havia muitas páginas nos dois que coincidiam quase palavra a palavra. Se fot ter comigo ao Goody’s hoje à noite, posso recitar-lhe alguns capítulos. Posso recitar dezenas de capítulos. Se tiver paciência para ouvir, posso recitar centenas. Ficará com uma ideia tão boa da História Oral como se a tivesse lido. Tendo em conta a minha letra, pode até ficar com uma ideia mais completa.

Nessa noite, por volta das oito, sentei-me com Gould a um canto no fundo Goody’s. Primeiro, bebeu dois martinis duplos, ao que dizia, com um objectivo particular. «Cheguei à conclusão», disse ele, «que o gin liga a bomba da memória.»

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