A Festa de Babette e Outras Histórias
Karen Blixen
Tradução: Maria
Jorge de Freitas
Colecção Asa de
Bolso nº 46
Asa Editores,
porto, Setembro de 2002
Na Noruega há um fiorde – um apertado e longo braço de
mar cavando as altas montanhas – Chamado o Fiorde de Berlevaag. No sopé das
montanhas, a cidadezinha de Berlevaag mais parece um brinquedo com casas miniaturais
pintadas de cinzento, amarelo, rosa e tantas outras cores.
Há sessenta e cinco anos, duas senhoras de meia idade
viviam numa dessas casas amarelas. Outras senhoras, nesse tempo, usavam a tournure e as duas irmãs bem podiam tê-la
usado também, e com a mesma graciosidade, pois eram altas e esbeltas. Mas nunca
seguiram os ditames da moda: sempre se acostumaram a vestir, com modéstia, de
preto ou de cinzento, Receberam elas os nomes de Martine e Philippa, em
homenagem a Martinho Lutero e a seu amigo Filipe Melanchton. Eram filhas de um
Deão, um profeta, o fundador de uma facção ou seita religiosa conhecida e
respeitada em toda a Noruega. Os seus membros renunciavam aos prazeres deste
mundo, pois a Terra e tudo o que sobre ela existe, era quase uma ilusão e a
realidade verdadeira era a Nova Jerusalém por que ansiavam. Desses lábios não
saía uma inocente blasfémia, todos os seus colóquios não iam além de um «oh,
sim», «oh, não» e dos nomes de Irmão i Irmã que na Congregação se davam.
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