I
Por que me abandonaste?
Clamo por ti de dia e não me respondes
nem de noite sossegas os meus sonhos.
Troçam de mim só porque confiei:
- Ai confiou? Agora que se entenda!
Numerosos os touros me rodeiam
e as feras de Basan.
Sou a água que se derrama
coração de cera a desfazer-se
é de barro cozido esta garganta.
Eu magro, todo ossos.
Sempre sobre a minha alma há uma espada
há as patas dos cães.
Responde: sou verme ou homem?
II
Direi o vosso nome aos meus irmãos.
Direi, na grande assembleia.
Hão-de saciar-se os pobres
erguer-se os corações.
Desde o ventre da mãe te pertencemos.
Os que do pó regressam, te saúdam.
Mário Castrim em
Do Livro dos Salmos
Legenda: fotografia
de Vivian Maier
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