Retratos de Hábito
Nuno Félix da
Costa
Versão inglesa
de Anne Morrison
Capa: Manuel
Rosa
Assírio &
Alvim, Lisboa, Dezembro de 1983
O povo português é, como muitos, um cruzamento de
raças, percursos e destinos que confluem no fatalismo da localização geográfica
isolada e extremada a uma península no fim da Europa. Imagino as pessoas que
aqui foram ficando: as perfeccionistas e insatisfeitas à procura da terra
prometida finalmente achada ou conformados com a impossibilidade de a encontrar
ou sem ânimo para a caminhada de regresso; as escorraçadas doutros espaços mais
centrais ou vencidas e decididas a começar de novo; as que levaram até ao fim o
gosto pela viagem e que aqui ficaram rodeadas de mar excepto no caminho que as
trouxe; as que vieram por mar, já tudo conheciam e aqui ficaram; e as que
naufragaram e não puderam não mais regressar.
Este perfil de pessoas parece consistente com o que
são as atitudes (hábitos interiores) dominantes na nossa alma: a esperança vaga
num futuro “ melhor” que há-de vir “quando deus quiser” e pelo qual não há
muito a fazer para já, onde radica o sebastianismo e a Nossa Senhora de Fátima;
a necessidade de motivações grandiloquentes como as da embaixada de D. Manuel
ao Papa ou as do Convento de Mafra de D. João V, necessidade que nos faz sair
do habitual miserabilismo minimalista; a aceitação do destino, o fado, que tem
a ver com o fatalismo inclusos nos nossos costumes brandos e tolerantes, pouco
reactivos do “tinha que ser”, “estava escrito” e, como sequência, “não havia
nada a fazer”.
Uma parte significativa das fotografias foi tirada em
festas religiosas.
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