Poirot Desvenda o Passado
Agatha Christie
Tradução: Edison
Ferreira Santos
Capa: Cândido
Costa Pinto
Colecção Vampiro
nº 1
Livros do
Brasil, Lisboa s/d
Hercule poirot olhou com interesse e curiosidade para
a jovem que era introduzida na Sala.
Nada havia de especial na carta que ela lhe escrevera.
Era um simples pedido de entrevista, sem que nada sugerisse qual o assunto a
tratar. Uma carta breve e séria. Apenas a firmeza da caligrafia indicava que
Carla Lemarchant era nova.
E, agora ali estava em carne e osso – uma rapariga
alta e esbelta, que mal havia trasposto a casa dos vinte anos. O tipo de mulher
que se gosta de olhar mais de uma vez. Apresentava-se bem vestida, um casaco
bem talhado, de alto preço, saia e peles. A cabeça bem equilibrada nos ombros,
sobrancelhas regulares, o nariz de corte delicado e queixo resoluto. Parecia
muito viva. Era a vivacidade, mais doq eu a beleza, que constituía nela o traço
predominante.
Antes da sua entrada, Hercule Poirot sentia-se velho…
Agora sentia-se rejuvenescido, vivo, ardente!
Quando avançou para cumprimenta-la, sentiu os seus
olhos cinzento-azulados estudarem-no atentamente. Ela examinava-o com grande
interesse.
Sentou-se e aceitou o cigarro que ele lhe oferecera.
Depois de acender o cigarro, ficou sentada um ou dois minutos, a fumar e a
examiná-lo com olhar grave e inquisitivo.
Poirot disse, delicadamente:
- Sim, é preciso decidir primeiro, não é?
- Queira desculpar, não ouvi bem – disse ela.
A sua voz era graciosa, com uma leve e agradável
aspereza.
- Procura verificar primeiro se sou um charlatão ou o
homem de que precisa, não é verdade?
Ela sorriu e disse:
- Bem, sim, é mais ou menos isso. Sabe, M. Poirot, o
senhor… não é exactamente como eu o imaginava.
- E sou velho, não é isso? Mais velho do que
imaginava?
- Sim, e isso também. – Ela hesitou. – Estou a ser
franca, bem vê. Eu quero… é preciso que eu tenha… o melhor.
- Fique tranquila – garantiu Hercule Poiror. – Eu sou o melhor!
- O senhor não é muito modesto – replicou Carla. – Não
tem importância, estou inclinada a confiar na sua palavra.
- Como sabe, disse Poirot serenamente – não devem
apenas empregar-se os músculos. Não preciso de curvar-me e medir as pegadas,
apanhar as pontas de cigarros e examinar as hastes recurvadas da grama. É
suficiente, para mim, sentar-me na minha cadeira e pensar. É isto – e deu uma leve pancada na cabeça ovóide – é isto
que funciona!
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