A Luz de Newton
Hélia Correia
Ilustrações:
Alice Aurélio
Relógio d’
«Água, Lisboa s/d
Era uma vez um homem que nascera para sábio. Ora, às
vezes, tal facto aborrecia-o muito. Sempre com o nariz enfiado em livros velhos,
sempre a escrevinhar relatórios para enviara aos outros sábios que moravam
longe – naquele tempo não havia telefone -, sempre a pensar e a repensar, a
fazer contas, a espreitar para os céus e para os caldeirões, que coisa! Então
não tinha direito a descansar?
Parou e foi abrir uma janela. O sol – se bem que fosse
um sol inglês estava cheio de força naquele dia – entrou por ali dentro, todo
entusiasmado, porque era muito raro o permitirem-lhe fazer uma visita àquele
laboratório. Com a pressa, tropeçou contra um prisma de vidro e desfez-se nas
suas sete cores. Surgiu um arco-íris na parede.
O sábio percebeu tudo o que se passara e ficou ainda
mais aborrecido.
- Pronto! Agora estraguei o mistério que havia no Arco-Íris
do céu! Não passa de um espectro da luz solar que se refracta nas gotinhas de
água. Acabaram-se as histórias sobre as panelas de ouro escondidas no lugar em
que ele toca na terra. Ninguém mais terá nele a túnica de Íris, mensageira dos
deuses, nem o sinal da paz entre Jeová e os homens. Mas que grande chatice!
Para desanuviar, foi dar um passeiozinho. Mas, como
estava pouco habituado a andar, depressa se cansou. Sentou-se à sombra de uma
macieira. E vai, caiu-lhe um fruto em cima da cabeça. Estava a saboreá-lo com
delícia quando gritou de novo:
- Que chatice!
Descobrira, ali mesmo, as leis da gravidade.
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