Carta de Sophia,
datada de 28 de Junho de 1962, para Jorge de Sena.
Custa um pouco
(?) ver a doce, e católica, Sophia escrever o que escreveu sobre Maria Judite
de Carvalho.
É assim.
Com estes
pequenos (?) episódios se perceberá, um pouco, como levámos tantos anos a
ver-nos livres de Salazar e Caetano.
Invejas,
vaidades, ciumeiras, ódiozinhos de estimação.
Se perceberá
também quando a seguir ao 25 de Abril nos dispersámos, quando tivemos nas nossas
mãos a possibilidade de construir um país e que acabou por descambar no por aí
se vê.
Sophia começa
por pedir desculpa a Jorge por levar tanto tempo a responder a uma sua carta.
Escreveu-lhe uma longa resposta mas rasgou-a.
Hoje escrevo a correr.
Nós graças a Deus vamos andando bem, mas sempre com os
combates que você sabe.
A minha família – pelas sabidas razões políticas –
quase não me fala. Os meus amigos de juventude quase me detestam.
Por outro lado daqui também se vêem muitos bailados. A
mulher do Urbano Maria Judite de Carvalho ganhou o Prémio Camilo castelo Branco
com um livro perfeitamente medíocre chamado As Palavras Poupadas.
Penso que é urgente você escrever ao Murilo.
Não pode imaginar todas as massadas e desilusões que
tenho tido com alguns amigos. Eles não têm a menor noção do que seja lealdade
nem seriedade. Felizmente consigo dominar-me e nem me zangar com eles. Creio
que são dignos de dó, Talvez sejam casos onde a miséria material acaba por
provocar a miséria moral. Vendem-se por baixo preço.
Diga-me o que pensa do Livro Sexto.
Vou para o Algarve em meados de Julho e penso lá ficar
até fins de Setembro.
Vocês fazem-nos a maior falta. As pessoas são raras.
O 0’Neilll disse-me que se afastara do grupo português
de Florença pois o ambiente é de grande intriga e «porcaria». Disse-me que
cortou relações com a «Natália» por ter «descoberto» que ela era mentirosa e sí
lutava por ambições pessoais! Mas como o O’Neill é fraco talvez mude de opinião
quando lhe convier!
Enfim!
Legenda: capa
tirada do site da Livraria Pó dos Livros.
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