O Amante
Marguerite Duras
Tradução: Luísa Costa
Gomes e Maria da Piedade Ferreira
Capa: Rogério Petinga
Difel. Lisboa,
Setembro 2000
Quando se aproximava a hora da partida, o barco lançava três apitos de
sirene, muito compridos, de uma força terrível, ouvia-se na cidade toda e para
os lados do porto o céu ficava negro. Então os rebocadores aproximavam-se do
barco e puxavam-no para o meio do rio. Depois, os rebocadores soltavam as
amarras e voltavam para o porto. Então o barco dizia adeus ainda mais uma vez,
lançava de novo os seus mugidos terríveis e tão misteriosamente tristes que
faziam as pessoas chorar, não só as da viagem, as que se separavam, mas também
as que tinham vindo ver, e as que estavam ali sem uma razão precisa, que não
tinham ninguém em quem pensar. O barco depois, muito lentamente, com as suas
próprias forças, embrenhava-se no rio. Via-se durante muito tempo a sua forma
alta avançar para o mar. Muita gente ficava ali a olhá-lo, a acenar cada vez
mais lentamente, cada vez mais desencorajadamente, com os seus xailes, os seus
lenços. E depois, por fim, a terra levava a forma do barco na sua curvatura. Em
tempo claro, víamo-lo afundar-se lentamente.
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