sábado, 3 de novembro de 2018

OLHAR AS CAPAS


O Amante

Marguerite Duras
Tradução: Luísa Costa Gomes e Maria da Piedade Ferreira
Capa: Rogério Petinga
Difel. Lisboa, Setembro 2000

Quando se aproximava a hora da partida, o barco lançava três apitos de sirene, muito compridos, de uma força terrível, ouvia-se na cidade toda e para os lados do porto o céu ficava negro. Então os rebocadores aproximavam-se do barco e puxavam-no para o meio do rio. Depois, os rebocadores soltavam as amarras e voltavam para o porto. Então o barco dizia adeus ainda mais uma vez, lançava de novo os seus mugidos terríveis e tão misteriosamente tristes que faziam as pessoas chorar, não só as da viagem, as que se separavam, mas também as que tinham vindo ver, e as que estavam ali sem uma razão precisa, que não tinham ninguém em quem pensar. O barco depois, muito lentamente, com as suas próprias forças, embrenhava-se no rio. Via-se durante muito tempo a sua forma alta avançar para o mar. Muita gente ficava ali a olhá-lo, a acenar cada vez mais lentamente, cada vez mais desencorajadamente, com os seus xailes, os seus lenços. E depois, por fim, a terra levava a forma do barco na sua curvatura. Em tempo claro, víamo-lo afundar-se lentamente.

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