«Como já deveríamos
saber, a representação mais exacta, mais precisa, da alma humana é o labirinto.
Com ela tudo é possível.»
José Saramago em A Viagem do Elefante
Segundo António Mega Ferreira, A Viagem do Elefante é, pura e simplesmente, literatura. E é excelente.»
O livro narra uma viagem
de um elefante que estava em Lisboa, e que tinha vindo da Índia, um elefante
asiático que foi oferecido pelo nosso rei D. João III ao arquiduque da Áustria
Maximiliano II (seu primo). Isto passa-se tudo no século XVI. O elefante tem de
fazer essa caminhada, desde Lisboa até Viena, e o que o livro conta é essa
viagem. Percorreu milhares de quilómetros e morreu um ou dois anos depois da
chegada.
A epígrafe do livro
é: «sempre chegamos ao sítio aonde nos
esperam.»
E quem nos espera?
«A causa da morte não chegou a ser conhecida, ainda não era tempo de análises
de sangue, radiografias do tórax, endoscopias, ressonâncias magnéticas e outras
observações que hoje são o pão nosso de cada dia para os humanos, não tanto
para os animais, que simplesmente morrem sem uma enfermeira que lhes ponha a
mão na testa. Além de o terem esfolado, a salomão cortaram-lhe as partes
dianteiras para que, após as necessárias operações de limpeza e curtimento,
servissem de recipientes, à entrada do palácio, para depositar as bengalas, os bastões,
os guarda-chuvas e as sombrinhas de verão.»
Uma maneira
humilhante de morrer.
Aquelas grossas patas que andaram quilómetros
e quilómetros são transformadas em objectos para colocar guarda-chuvas, outras
coisas.
Muitas páginas antes,
José Saramago descrevera:
«Ensinado, o que se chama ensinado, no sentido de saber mais umas
quantas habilitações de circo, não o é, mas costuma comportar-se com a
dignidade de um elefante que se respeita.»
Legenda: capa de A
Viagem do Elefante publicado pela Porto Editora. A caligrafia da capa
é da autoria do escritor Mário de Carvalho.
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