Reproduzir as capas dos livros da
Biblioteca da Casa, foi uma das ideias que se considerou interessante
apresentar no Cais do Olhar.
De entre essas capas não poderiam faltar as da Colecção Vampiro.
Principalmente as capas de Cândido Costa
Pinto e de Lima de Freitas.
As que gosto mais são as de Cândido
Costa Pinto.
Grande parte dos livros da Vampiro
herdei-os do meu pai.
Os
dias do meu pai em Almoçageme eram passados a ler romances policiais. A
esmagadora maioria dos volumes da Colecção
Vampiro que por aqui estão, foi ele que os comprou. No intervalo
das leituras subia ao Café
Adraga, pedia ao João uma sandes mista em pão saloio – não te esqueças que é aparada! – e fazia descer, bem fresca,
meia garrafinha de branco Beira-Mar.
Algures, em As
Longas Tardes de Chuva em Nova Orleães, escreve Ana Teresa Pereira:
«- O que lias quando eras criança?
- Havia uma estante de policiais em
casa. Na biblioteca do meu pai. Ficava nas traseiras da casa e pela janela
via-se o jardim. Lembro-me de ir para lá nas tardes de chuva. Escolhia-os pelas
capas.»
Olhar as Capas acompanha com um pequeno excerto do livro.
Os livros da Colecção Vampiro li-os há
muitos anos.
Para o tal excerto, fui relendo-os.
Com grande espanto, à medida que lhes
fui pegando, vi alguns desfazerem-se por completo.
A humidade, os diversos calores, as traças,
atacaram-nos implacavelmente, livros que já em si, se exceptuarmos as capas,
nunca primaram pela qualidade do papel, da impressão, da encadernação.
São excelentes as capas de Cândido da Costa
Pinto, algumas verdadeiras obras de arte, interessantes também as de Lima de
Freitas mas, verdadeiramente, a cereja no topo do bolo são as capas de Cândido
Costa Pinto que as desenha até ao número 104 da colecção, enquanto que as de
Lima de Freitas vão do número 105 até ao número 325.
A partir daqui as capas perdem qualidade, alguns
volumes mencionam que as capas são de autoria de A. Pedro e grande parte são de
um péssimo gosto, muitas a resvalar para a pornografia pura e dura, com o mero
propósito de chamar a atenção com vista à fácil compra.
Diga-se também que as traduções não primavam
pela qualidade. A maior parte seguia a edição brasileira, revistas, em cima do
joelho, para português.
A Vampiro contou com alguns tradutores portugueses,
lembro-me de Lima de Freitas, António Lopes Ribeiro, Mascarenhas Barreto, Elisa
Lopes Ribeiro, Baptista de Carvalho, Fernanda Pinto Rodrigues e Mário-Henrique
Leiria, apenas um livro traduzido, o clássico O Imenso Adeus de Raymond
Chandeler, nº 101 da Colecção.
A Vampiro seguia o lema que tudo o que viesse à
rede era peixe e daí encontramos, na colecção, autores da segunda, terceira e
quarta divisão do Romance Policial.
Mas, no fundo dos fundos, o balanço final é
positivo.
De uma velha crónica do António Lobo
Antunes:
«Em
acabando este livro apetece-me escrever um romance policial, ou antes um
romance negro. Trago esta ideia há anos e chegou a altura de o fazer.
Lembro-me de falar nisso ao meu irmão de alma José Cardoso Pires
Lembro-me de falar nisso ao meu irmão de alma José Cardoso Pires
-
Sabes do que tenho vontade, tu?
esperei
que o silêncio retornasse suficientemente côncavo para as minhas palavras
caberem lá dentro e esvaziei o púcaro Fazer um romance negro.
Recebi
de resposta
-
Ando a pensar nisso desde que comecei.
Demorámo-nos
às voltas com o plano de fazer o tal romance negro a meias, em capítulos
alternados, depois o Zé teve aqueles problemas que acabaram numa morte horrível
e, mesmo sem ele, não abandonei a cisma. Se for capaz de o pôr em marcha
dedico-lho, claro, nós que não dedicámos livros um ao outro:
-
Porque é que a gente nunca dedicou um livro ao outro?
-
Achas que é preciso?
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