sexta-feira, 2 de novembro de 2018

SARAMAGUEANDO


«Foi muito simples. Encontrávamo-nos na cozinha. Pilar e eu, sós, quando a rádio informou que o Prémio Nobel tinha sido atribuído a Dario Fo. Olhámo-nos tranquilamente (sim, tranquilamente, jurá-lo-ia se fosse necessário) e eu disse: «Pronto. Podemos voltar ao nosso sossego.» Amanhã partiremos para Colónia.»

José Saramago em Cadernos de Lanzarote, Volume V

Quinto volume dos Cadernos de Lanzarote.

Estava dado como último volume mas sabe-se, desde Fevereiro, que foi encontrado um outro, já publicado com o título de Último Caderno de Lanzarote.

A pasta Cadernos de Lanzarote estava no computador de José Saramago, e sempre que Pilar del Río lá entrava pensava que continha apenas os cadernos que já estavam publicados. Mas, no final de Fevereiro — quando estava à procura de uma referência a uma determinada conferência, a viúva do escritor fez o que nunca tinha feito. Clicou na pasta e deparou-se com: Caderno 1, Caderno 2, Caderno 3, Caderno 4, Caderno 5 e Caderno 6…

José Saramago, depois da publicação do quinto volume dos Cadernos, já dissera ao amigo e editor Zeferino Coelho que não contasse com mais qualquer volume dos Cadernos.

Afinal, havia outro…

Apesar das naturais insuficiências, é um livro de José Saramago.


O 5º volume dos Cadernos de Lanzarote saiu para as livrarias em Outubro uma tiragem de 6.000 exemplares e com uma cinta desdobrável na capa em que se podia ler: José Saramago Prémio Nobel da Literatura 1998.

Cobre todo o ano de 1997 e abre assim:

«É corrente ouvir dizer que são tantas as leituras de um livro quantos tiverem sido os seus leitores (em três simples palavras, e ainda por cima repetindo uma delas, a sabedoria popular portuguesa já tinha encontrado a expressão exacta: cada cabeça, cada sentença…), o que quererá dizer, se não interpreto mal, que o autor mais afortunado será aquele que, graças a uns quantos leitores atentos que lhe vão comunicando as suas impressões de leitura, está continuamente em processo de aprendizagem sobre a sua própria obra.»

A 25 de Abril refere uma declaração de Vasco Lourenço:

«Se fosse preciso, faria outro 25 de Abril…»

E comenta:

«Dá vontade de lhe dizer que teria podido consegui-lo facilmente se não tivesse ajudado tanto a fazer o 25 de Novembro…»

Legenda: capa de Cadernos de Lanzarote, Volume V publicado pela Porto Editora. A caligrafia da capa é da autoria de Leonor Xavier.

Sem comentários: