«Foi muito simples. Encontrávamo-nos na cozinha. Pilar
e eu, sós, quando a rádio informou que o Prémio Nobel tinha sido atribuído a
Dario Fo. Olhámo-nos tranquilamente (sim, tranquilamente, jurá-lo-ia se fosse
necessário) e eu disse: «Pronto. Podemos voltar ao nosso sossego.» Amanhã
partiremos para Colónia.»
José Saramago em
Cadernos de Lanzarote, Volume V
Quinto volume dos Cadernos de Lanzarote.
Estava dado como
último volume mas sabe-se, desde Fevereiro, que foi encontrado um outro, já
publicado com o título de Último Caderno
de Lanzarote.
A pasta Cadernos
de Lanzarote estava no computador de José Saramago, e sempre que Pilar
del Río lá entrava pensava que continha apenas os cadernos que já estavam
publicados. Mas, no final de Fevereiro — quando estava à procura de uma
referência a uma determinada conferência, a viúva do escritor fez o que
nunca tinha feito. Clicou na pasta e deparou-se com: Caderno 1, Caderno 2,
Caderno 3, Caderno 4, Caderno 5 e Caderno 6…
José Saramago, depois
da publicação do quinto volume dos Cadernos, já dissera ao amigo e editor
Zeferino Coelho que não contasse com mais qualquer volume dos Cadernos.
Afinal, havia outro…
Apesar das naturais
insuficiências, é um livro de José Saramago.
O 5º volume dos Cadernos de Lanzarote saiu para as
livrarias em Outubro uma tiragem de 6.000 exemplares e com uma cinta
desdobrável na capa em que se podia ler: José
Saramago Prémio Nobel da Literatura 1998.
Cobre todo o ano de
1997 e abre assim:
«É corrente ouvir dizer que são tantas as leituras de um livro quantos
tiverem sido os seus leitores (em três simples palavras, e ainda por cima
repetindo uma delas, a sabedoria popular portuguesa já tinha encontrado a expressão
exacta: cada cabeça, cada sentença…), o que quererá dizer, se não interpreto
mal, que o autor mais afortunado será aquele que, graças a uns quantos leitores
atentos que lhe vão comunicando as suas impressões de leitura, está
continuamente em processo de aprendizagem sobre a sua própria obra.»
A 25 de Abril refere
uma declaração de Vasco Lourenço:
«Se fosse preciso, faria outro 25 de Abril…»
E comenta:
«Dá vontade de lhe dizer que teria podido consegui-lo facilmente se não
tivesse ajudado tanto a fazer o 25 de Novembro…»
Legenda: capa de Cadernos
de Lanzarote, Volume V publicado pela Porto Editora. A caligrafia da
capa é da autoria de Leonor Xavier.
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