quarta-feira, 14 de novembro de 2018

SARAMAGUEANDO


«Aprendi a ver mais longe que a sola destes sapatos, aprendi que, por detrás desta vida desgraçada que os homens levam, há um grande ideal, uma grande esperança. Aprendi que a vida de cada um de nós deve ser orientada por essa esperança e por esse ideal. E que se há gente que não sente assim, é porque morreu antes de nascer.»

José Saramago em Claraboia

José Saramago acabou de escrever Claraboia no dia 5 de Janeiro de 1953.

Era o seu segundo romance, o primeiro foi Terra do Pecado, e entregou-o a um amigo que o levou à Notícias Editora que não lhe dedicou qualquer tipo de atenção.

Encafuado nas prateleiras de um qualquer armazém, foi descoberto já o Saramago atingira a relevância que se reconhece.

Mostraram interesse em publicá-lo. Saramago recusou e recuperou o manuscrito mas, enquanto fosse vivo, não quis que o livro  fosse publicado.

A sua publicação ocorreu em Setembro de 2011.

Clarabóias  existiam em muitos prédios que têm uma escada interior de acesso aos andares, está no cimo da escada, no telhado, para iluminar essa escada.

José Saramago imagina um prédio que tem rés-do-chão, outros andares, cada andar está ocupado por uma família, as famílias são todas completamente diferentes e conta-nos a história de cada uma delas.

Saramago achou que «o livro não está mal construído. Enfim, é um livro também ingénuo, mas que, tanto quanto me recordo, tem coisas que já têm que ver com o meu modo de ser.»

Alguns pedaços vadios encontrados na recente releitura do livro:

«Aquela aguda sensação que faz temer a loucura e desejá-la.»

«Um silêncio pesado, como se a morte tivesse vindo sentar- se entre os dois homens.»

«No meu entender, as mulheres bonitas não querem amar, querem ser amadas.»

«Talvez agora o seu amor fosse maior, porque já não se alimentava de perfeições reais ou imaginárias.»

«Ter não é possuir. Pode ter-se aquilo que se não deseja. A posse é o ter e o desfrutar o que se tem.»

«O cigarro fazia parte de uma complicada rede de atitudes, palavras e gestos, todos com o mesmo objetivo: impressionar.»

«Os três estavam contentes, tinham aquele sorriso de olhos que vale por todos os sorrisos de dentes e lábios.«

«Ouviu-se um suspiro: Rosália atingira o êxtase, o intermédio lírico terminara. Das altas regiões da adoração, desceu ao prosaísmo terrestre.»

«Quando Maria Cláudia entrou... as sombras da cozinha saíram.»

«O que eu queria é que a sua preocupação de fugir a prisões não o levasse a ficar prisioneiro de si mesmo, do seu cepticismo.»

Legenda: capa de Claraboia publicado pela Porto Editora. A caligrafia da capa é da autoria de Guilherme d’Oliveira Martins.

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