quinta-feira, 15 de novembro de 2018

SOMOS TÃO HIPER-SENSÍVEIS!


Aquando do lançamento das Leituras com a Correspondência entre António Ramos Rosa, referia a comovedora humildade de António Ramos Rosa, um homem tão amável como a sua poesia, e encontro em Eduardo Lourenço a afirmação que remete para a ética do pudor de António Ramos Rosa.

Na resposta ao envio dos livros feito por Ramos Rosa, Jorge de Sena, em carta datada de 26 de Dezembro, atalha:

«Simplesmente, perdoe-me V. que lhe chame a atenção, não chegou tudo. Creio que V. ainda tem os Mythes et Porttaits do Groethuysen e alguns números da Critique, o nº 51-52 e o nº 54 (embora eu suponha, mas não esteja certo, de que um destes dois, um só, não lhe emprestei a si. Pelo menos isto, porque não encontro uma das listas, que é a segunda. Mas io que for o poderá V. saber tão bem, ou melhor do que eu, como é o caso.. Não leve a mal o que lhe estou escrevendo, mas há-de concordar comigo que tenho. Com a demora e o com o silêncio, sobretudo com este último, uma certa razão de queixa. E razãp tanto maior quanto poucas pessoas terá V. encontrado que tão liberalmente se disponham a emprestar livros, em qualidade e em quantidade, às outras pessoa que lhes mereçam consideração e estima, Não será assim?  E precisamente porque tenho a consciência limpa neste ponto é que lhe falo francamente. Espero que – e tenho o direito de esperar – qualquer que possa ser momentaneamente a sua reacção (somos sempre tão híper-sensíveis todos, sobretudo quando sabemos que não temos inteira razão) não reatará o silêncio anterior.

Em Correspondência

Legenda: Jorge de Sena

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