Textinhos, Intróitos & etc
Vitor Silva Tavares
Capa: Luís Henriques
Pianola editores,
Lisboa, Outubro de 2017
Como se diz dos elefantes, também ele se considerou morto e morreu.
Foi-se indo morrendo. Deixando-se matar nele até que se matou. Subscrevendo o
homicídio.
Então se diz do Eduardo: suicida. Para não dizer: suicidado. Que já
matado estava quando se chegou à morte.
Não há endereçáveis para a responsabilidade ou culpa. O rapaz do
trapézio voador (assim se ficcionou: premonitório?) achava-se pronto ao voo sem
rede – metáfora de vida perigosa agora tomada à letra, ao gesto. Certa
madrugada, idas as festas felizes, aí vai ele pelo ar baixo: ponto final no
pátio das traseiras.
Ninguém teve nada com isso: não fui eu, não foste tu, etc.
(Do texto Na Morte de Eduardo Guerra Carneiro,
publicado na revista Telhados de Vidro
nº 2, Maio de 2004)
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