quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

O PASSADO NÃO SE PODE MUDAR

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Não me servia de nada dizer que de todos os sarilhos em que me vi metido sempre me saí bem,
tanto das fortunas como das desgraças. O passado é como uma bicha solitária cada vez mais comprida e que trago enrolada dentro de mim e que nunca perde os anéis por mais que eu me esforce por esvaziar as tripas em todas as retretes à inglesa ou á turca, ou nos baldes das prisões ou nas arrastadeiras dos hospitais ou nas fossas dos acampamentos, ou simplesmente nos arbustos, vendo bem se não aparece de repente uma cobra, como daquela vez na Venezuela. O passado não se pode mudar tal como não se pode mudar de nome, que por mais passaportes que tenha tido, com nomes de que já não me lembro, todos me chamaram o suíço Ruedi: para onde quer que fosse e eme apresentasse, havia sempre alguém que sabia quem eu era e o que fazia, embora o meu aspecto tenha mudado muito com o passar dos anos, especialmente desde que o meu crânio ficou calvo e amarelo como uma toranja, e isto sucedeu na epidemia de tifo a bordo do Stjarna, quando pela carga que levávamos não podíamos aproximar-nos da margem nem sequer para pedir socorros via rádio.

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