Dizia-se antigamente que as notícias e as crónicas de jornais, após
serem lidas, só serviam para embrulhar o peixe ou as castanhas assadas. O
advérbio "só" acentuava a vacuidade do gesto, a pretensão do autor e
o pragmatismo do leitor. Passadas algumas décadas talvez devêssemos trocar o
"só" por um "ainda". Sim, era possível reutilizar as
notícias, dar-lhes um propósito e um fim digno e utilitário.
Talvez nos embrulhemos
a nós, protegendo não as mãos mas as cabeças de tanto ruído, de tantos boatos,
de tanta manipulação produzida por fontes incertas ou mal-intencionadas.
Uma pergunta segue a constatação: Para que servem os jornais de hoje?
Que fim lhes havemos de dar se, muitas vezes, nem matéria são, capazes de
isolar o calor ou de absorver a gordura que não queremos nas mãos? Que
poderemos embrulhar nos muitos bits e bytes que nos chegam a todo o
momento?
Talvez nos embrulhemos a nós, protegendo não as mãos mas as cabeças de
tanto ruído, de tantos boatos, de tanta manipulação produzida por fontes
incertas ou mal-intencionadas. Os jornais continuam a embrulhar ideias, factos
e, de vez em quando, um pouco de poesia. É pouco? Não, não é nada pouco.
Nuno Camarneiro no Diário de Notícias, on-line
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