Em Olhar as Capas
surge a edição da casa de Podem Chamar-me Eurídice, adquirida já depois do 25
de Abril.
Mas a primeira
leitura tinha ocorrido antes, livro emprestado pelo Carlos Alberto que era o
campeão da rua no que tocava a livros «Fora do Mercado».
Nunca revelou como os
obtinha mas ninguém se preocupava com o pormenor.
Um livro de que
gostei muito e que me marcou.
Reli-o agora e continuo a achá-lo um livro muito
bonito, maravilhoso mesmo.
Uma história de amor
que tem no contexto histórico a vivência da clandestinidade e repressão da
subversão universitária dos anos 60. É também uma metáfora do assassínio do
escultor José Dias Coelho, abatido a tiro por agentes da PIDE.
Na etiqueta «José Dias Coelho» deste blogue, encontrarão evocações desse hediondo crime.
E este é o texto com
que um qualquer major de cavalaria determinou a proibição do livro:
«Trata-se de um romance de amor entre estudantes universitários, cuja
acção se situa num ambiente subversivo e com alguma imoralidade, em que o A.
manifesta o propósito de exteriorizar o seu espírito de facção.
Vão assinaladas as passagens das páginas 3º6 a 38, 50, 51, 71 a 76, 100, 103, 109,115, 129, 130, 139 a 141, 153, 174, 175 e 204 até à última página.
Vão assinaladas as passagens das páginas 3º6 a 38, 50, 51, 71 a 76, 100, 103, 109,115, 129, 130, 139 a 141, 153, 174, 175 e 204 até à última página.
É pois de proibir a circulação deste livro dada a sua índole
acentuadamente revolucionária e o despudor que o caracterizam.
O leitor
José de Sousa Chaves
Major»
No posfácio a Podem Chamar-me Eurídice, escreve
Orlando Costa:
«Durante quasi 50 anos – dos quais o autor partilhou 23 – a Censura
cresceu num grande corpo tentacular, opressor de pensamento e voz, para acabar interdirá
à porta das nossas casas. E em plena praça pública. Escritores de caneta e
lápis, de máquina de escrever ou esferográfica, hoje sabem que a arte e a
cultura oprimidas e reprimidas defendem-se com armas.»
Legenda: Orlando
Costa
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