No sobe e desce do
Chiado, na tarde cinzenta de véspera de Natal, ouvir Fernando Pessoa, com a
queiroziana Casa Havaneza por detrás, citando Alberto Caeiro, dizer à turista
espanhola que pornograficamente se empoleira no pescoço, que «o maior mistério
do mundo é não haver mistério nenhum».
Mas saberá a tal
turista quem foi Fernando Pessoa?
Vamos pensar que sim
e, ao mesmo tempo, dizer baixinho os versos lidos, vez primeira, num dos livros
da classe primária salazarista:
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
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