Livio, personagem
do filme de João César Monteiro, «Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço,
a certo ponto do filme diz:
«O
meu pai era um tipo melancólico. Caçava moscas e lia Camilo. Morreu»
Fui, e sou, um
péssimo leitor de Camilo Castelo Branco.
Os livros
existiam na biblioteca do meu pai, mas enamorei-me pelo Eça.
Já tarde no
tempo, fiz várias incursões por alguns livros de Camilo, mas não ficaram
registos.
Tristemente me
espanto, como existindo neste blogue uma etiqueta Olhar as Capas, em que já passaram 1.466 livros da biblioteca da
casa, não haja um livro de Camilo.
E dezenas deles estão
por aqui.
Pior ainda: nem
sequer existe etiqueta do autor.
Que dizer?
Camilo nasceu em
Lisboa no dia 16 de Março de 1825.
Ficou órfão de
mãe com 2 anos e de pai com 10 anos. Foi morar com uma tia e depois com a sua
irmã mais velha.
O resto é a tragédia
de uma vida.
Casamentos
frustrados, seminário, escândalos vários, em que está incluída, cheia de
salero, uma bailarina espanhola, que para a sustentar, Camilo recorre ao jogo
no casino da Póvoa do Varzim, contraindo inúmeras dívidas de jogo, adultério, o
impressionante rapto e casamento com Ana Plácido, filhos, um deles, louco.
A 3 de
Julho de 1890, depois de ter perdido a esperança de recuperar a vista, suicida-se,
em S. Miguel de Seide, disparando um tiro de revólver na têmpora direita.
Camilo Castelo
Branco foi um dos primeiros escritores portugueses a viver exclusivamente do
que escrevia, deixando uma vastíssima e diversificada obra.
Não
sendo um tipo melancólico, nem caçador de moscas, quase nos 76 anos, vou começar a
ler Camilo Castelo Branco.
Deixando, por
ora, os romances, vou ler esta Boémia do
Espírito.
No Preâmbulo,
Camilo explica:
«O
livro é que há-de definir o título.
Se
o leitor, voltada a página final, não tiver encontrado a causa que motivou
semelhante rótulo, também eu não poderei esclarecê-lo.»
E termina:
«Se
perguntassem a Coubert, a Mery, a Léon Gozlan, a Gautier e aos outros porque
eram boémios, e não tabeliães de notas, eles não saberiam responder.»
1.
Continua o frio.
Nesta vida
destrambelhada de confinamento, as notícias não nos fazem esquecer – como se
fosse possível esquecer?! - o que nos
vai acontecendo:
Números
alarmantes dizem-nos que, hoje, registaram-se 166 óbitos e 10.947 novos casos
de infecção.
2.
Doentes esperam,
ao longo dos últimos dias, dentro das ambulâncias, durante horas, à porta das
urgências dos hospitais.
Alguns morrem.
É sempre tarde
quando se chora, mas se a este estado chegámos, é porque utilizámos muito mal o
dinheiro que, em tempo de vacas gordas, nos chegou da Europa. As auto-estradas,
perdidas no interior do país, não são utilizadas, os milhares de rotundas pelo
pedaço espalhadas, servem para o que ninguém sabe o quê.
3.
Manuel Lemos,
presidente da União de Misericórdias Portuguesas:
«O
Estado é o principal responsável pela existência de lares ilegais.»
4.
«Pouca é a distância entre a vida e a
morte.»
De uma canção do folclore
chileno.
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