Christine Garnier
Sem indicação de tradutor(a)
Prefácio sem indicação
de autor
Capa: Mestre António
Lino
Fernando Pereira Editor, Lisboa s/d
Tenho confiança! É com estas palavras de Salazar que terminam as nossas
conversas.
Maria apareceu na varanda em vestido domingueiro. Arranjou o ar um
pouco solene dos que acompanham à estação um amigo que parte para longa
viagaem. Fala ao Presidente em voz baixa.
- O comboio não tarda em passar em Santa Comba – traduz Salazar. – Tem de
partir.
Então, Maria oferece-me a sua prenda de adeus, um «naperon» de tecido
fino que ela minuciosamente bordou para mim com pequeninas rosas, e soluça
quando a beijo.
- Muito obrigada – digo, comovida
É esta a única expressão portuguesa que aprendi enquanto estive no
Vimieiro. Não conheço outras palavras para exprimir a Mria a minha gratidão.
- Saudades – responde ela através das lágrimas.
- Quanto lastimamos a sua partida – interpreta Salazar.
- Quantas saudades levo!
Será necessário acresentar mais alguma coisa?
Esperam-me para me levar à estação. O carro afasta-se rapidamente. Mal
tive tempo de ver pela última vez a imponente figura de Salazar. Como de
costume, na luz um pouco velada, fica à porta. Imóvel. Só.
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