No Festival RTP da Canção de 1976, Carlos do Carmo foi escolhido para único intérprete das oito canções selecionadas por um júri onde se encontravam Manuel da Fonseca e Pedro Tamen.
Eram estas as canções:
No
teu poema José
Luís Tinoco,
Novo
Fado alegre José
Carlos Ary dos Santos/Fernando Tordo,
Os
lobos e Ninguém José
Luís Tinoco,
Maria-Criada,
Maria-Senhora Tozé
Brito
Flor
de verde pinho Manuel
Alegre/José Niza
Onde é que tu moras Joaquim Pessoa/ Paulo
de Carvalho
Estrela da Tarde José Carlos Ary
dos Santos/Fernando Tordo.
Por
votação do público saiu vencedora Flor de Verde Pinho que representou
Portugal no XXI Festival Eurovisão da Canção.
As
interpretações de Carlos do Carmo estão registadas no disco Uma Canção Para a Europa.
Neste
bom naipe de canções, estão duas excelentes canções: Estrela da Tarde e No Teu
Poema e uma delas é que deveria ter sido a representação portuguesa na
Eurovisão, mas quando se coloca a escolha no público, os desarranjos
acontecem!...
No
artigo de opinião que escreveu para o Público,
Augusto M. Seabra, faz notar que No Teu
Poema era uma canção que calhava particularmente bem a Carlos do Carmo mas
que, e bastante surpreendentemente, não a
retomou e dir-se-ia que a entregou a Simone de Oliveira.
Fica aqui a interpretação de Carlos do Carmo com o pianista Bernardo Sassetti.
Carlos
do Carmo, politicamente, sempre se situou à esquerda, foi aquilo que a gíria política
designa por compagnon de route do Partido.
Mas
por ali o fado não era muito bem visto, criava pele de galinha a muita gente, e
devemos lembrar-nos que o excelente Fernando Lopes Graça era o chefe de fila do
preconceito anti-fado.
A
participação de Carlos do Carmo, na 1ª Festa do Avante, realizada na FIL em
1976, esteve para não acontecer, pois não fazia qualquer sentido alguém do fado
subir ao palco, se bem que no Palco nr. 5, na tarde de domingo houvesse uma
«Tarde de Fado Amador», e à noite, no mesmo palco, houvesse uma «Noite do Fado»
com actuações de Adriano Correia de Oliveira, Fernando Farinha, Fernando Tordo,
José Manuel Osório, Samuel e Saudade dos Santos, já para não referir o Concerto
de Carlos Paredes, no palco nr. 2, nesse mesmo domingo.
A
birra tinha a ver com o nome de Carlos do Carmo.
Mas
foi aí que o calmeirão Adriano Correia de Oliveira, levantou a voz e disse a quem
de direito:
«Ou
o Carlos do Carmo canta, ou eu não canto».
Certas
coisas que se dizem, pagam-se.
E
Adriano Correia de Oliveira pagou.
O
Adriano não era um sectário, nem alinhava em capelinhas, pela simples razão que
entendia que o Partido não é nenhuma congregação religiosa.
Pensar pela própria cabeça tem riscos, e
o sectarismo de muitos dos seus camaradas, afectou-o profundamente.
Junto a outras pequenas-grandes-coisas
levaram o Adriano à morte.
Tinha 40 anos.
Cantou muitas vezes que a saudade é um
luto e José Carlos Ary dos Santos retratou-o assim:
«Nas tuas mãos tomaste uma guitarra
copo de vinho de alegria sã
sangria de suor e de cigarra
que à noite canta a festa de amanhã.
Foste sempre o cantor que não se agarra
o que à terra chamou amante e irmã
mas também português que investe e marra
voz de alaúde rosto de maçã.
O teu coração de ouro veio do Douro
num barco de vindimas de cantigas
tão generoso como a liberdade.
Resta de ti a ilha dum tesouro
a jóia com as pedras mais antigas.
Não é saudade, não! É amizade.»
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