domingo, 17 de janeiro de 2021

SAUDADE DA PROSA


Poesia, saudade da prosa;
escrevia «tu», escrevia «rosa»;
mas nada me pertencia,


nem o mundo lá fora
nem a memória,
o que ignorava ou o que sabia.


E se regressava
pelo mesmo caminho
não encontrava

senão palavras
e lugares vazios:
símbolos, metáforas,


o rio não era o rio
nem corria e a própria morte
era um problema de estilo.

Onde é que eu já lera
o que sentia, até a
minha alheia melancolia?

 

Manuel António Pina de Em Prosa Provavelmente em Poesia Reunida

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