quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

DOS REBOTALHOS E COISAS ASSIM...


Morrem as personalidades e somos invadidos por arremessos de genialidade e outras variantes.

Há semanas, aquando da morte de Eduardo Lourenço e um panegírico traçado por Clara Ferreira Alves no Expresso, António Guerreiro abriu, no Público, o seu Livro de Reclamações e colocou o texto que acima se lê.

Das duas-páginas-duas que Clara colocou semanário, Guerreiro destaca:

«Eis como me lembro dele. Uma casa, a minha. Em Lisboa. Um longo corredor cheio de estantes, e lá andava Eduardo Lourenço a cirandar à cata de livros.»

Um dia, Eduardo Lourenço foi a casa da Clara, que é em Lisboa e tem um longo corredor cheio de estantes, e por lá andou a olhar livros.

Que dizer?

António Guerreiro disse tudo.

Lembro-me, a propósito de quê? Das enormes duas páginas da Clara no Expresso? - de um livro de Baptista-Bastos, O Secreto Adeus, em que Raquel pergunta ao jornalista Álvaro Moreira:

« - É verdade que vocês já têm biografias escritas de celebridades que estão com os pés para acova?

- Sim, temos algumas.

- E se uma celebridade morre de repente, sem ninguém esperar?

- Nesse caso, o chefe encarrega um redactor de escrever a história.

- Um redactor especializado? Por exemplo, morre um escritor; é um jornalista especializado em assuntos literários quem lhe faz a biografia?

Claro que não era. Não havia jornalistas especializados em coisíssima nenhuma. Os que se especializavam faziam-no por conta própria, e depois, nunca os encarregavam daquilo para que estavam mais indicados. A maioria das vezes, até, a informação para o leitor era incorrecta ou filtrada através da simpatia ou antipatia política, pessoal ou artística, ou feita sem perfeito conhecimento de causa.»

 

1.

Voltaram a enfiar-nos num confinamento.

Hoje registaram-se 156 mortes e 10. 556 pessoas infectadas.

Há quatro dias que morrem em média 6 pessoas por hora.

Tempos dementes.

Angústia para aqui, angústia para ali…

Vou voltar a perder o fio à meada

Voltarei a reler A Peste de Camus, voltarei a reler O Ensaio Sobre a Cegueira de Saramago?

2.

De uma canção do folclore do Alaska:

«Se eu pudesse morrer como quisesse».

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