Morrem as
personalidades e somos invadidos por arremessos de genialidade e outras
variantes.
Há semanas,
aquando da morte de Eduardo Lourenço e um panegírico traçado por Clara Ferreira
Alves no Expresso, António Guerreiro
abriu, no Público, o seu Livro de Reclamações e colocou o texto que acima se
lê.
Das duas-páginas-duas
que Clara colocou semanário, Guerreiro destaca:
«Eis
como me lembro dele. Uma casa, a minha. Em Lisboa. Um longo corredor cheio de
estantes, e lá andava Eduardo Lourenço a cirandar à cata de livros.»
Um dia, Eduardo
Lourenço foi a casa da Clara, que é em Lisboa e tem um longo corredor cheio de
estantes, e por lá andou a olhar livros.
Que dizer?
António
Guerreiro disse tudo.
Lembro-me, a
propósito de quê? Das enormes duas páginas da Clara no Expresso? - de um livro
de Baptista-Bastos, O Secreto Adeus, em
que Raquel pergunta ao jornalista Álvaro Moreira:
«
- É verdade que vocês já têm biografias escritas de celebridades que estão com
os pés para acova?
-
Sim, temos algumas.
-
E se uma celebridade morre de repente, sem ninguém esperar?
-
Nesse caso, o chefe encarrega um redactor de escrever a história.
-
Um redactor especializado? Por exemplo, morre um escritor; é um jornalista
especializado em assuntos literários quem lhe faz a biografia?
Claro
que não era. Não havia jornalistas especializados em coisíssima nenhuma. Os que
se especializavam faziam-no por conta própria, e depois, nunca os encarregavam
daquilo para que estavam mais indicados. A maioria das vezes, até, a informação
para o leitor era incorrecta ou filtrada através da simpatia ou antipatia
política, pessoal ou artística, ou feita sem perfeito conhecimento de causa.»
1.
Voltaram a
enfiar-nos num confinamento.
Hoje
registaram-se 156 mortes e 10. 556 pessoas infectadas.
Há quatro dias
que morrem em média 6 pessoas por hora.
Tempos dementes.
Angústia para
aqui, angústia para ali…
Vou voltar a
perder o fio à meada
Voltarei a reler A Peste de Camus, voltarei a reler O Ensaio Sobre a Cegueira de Saramago?
2.
De uma canção do
folclore do Alaska:
«Se eu pudesse morrer
como quisesse».
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