pernoito no
interior do corpo desarrumado
o medo invade o penumbroso corredor
descubro uma cintilação de água no estuque
uma cicatriz de cristais de bolor
abre-se
porosa ao contacto dos dedos indica
que não haverá esquecimento ou brisa
para limpar o tempo imemorial da casa
deste simulado sono ficou-lhe o amargo iodo
as madeiras enceradas cobertas de
poeira
ervas secas à chuva molhos de
rosmaninho
junquilhos, bocas de lobo silenas,
trevo
mas nenhuma fuga foi recomeçada
a infância permanece triste onde a
abandonei
quase não vive
no entanto ouço-a respirar dentro de
mim
agora tudo é diferente
recomeço a viver a partir do vazio
da treva dos dias em silêncio
por entre a pele e um feixe de
magnificas veias
sinto o pássaro da velhice arrastando
as asas
onde desenvolve o calmo voo lunar
enumero cuidadosamente os objectos, classifico-os
por tamanhos por texturas, por funções
quero deixar tudo arrumado quando a
loucura vier
da extremidade aguçada do corpo alado
e o rosto for devassado por um
estilhaço de asa
então a vida abater-se-á sobre a folha de papel
onde verso a verso
me ilumino e me desgasto
Al Berto em O Medo
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