terça-feira, 12 de janeiro de 2021

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


CINEMA

 

No meu olhar,

de gosto,

ritmo,

aroma

e seda,

com ele,

por mágica alameda

eu sonho ir ao espaço das visões,

que rolam como os mundos,

numa sagrada música visível,

onde eu me dispersaria...

 

Ó Cinema, ó maravilha

em que eu me possuiria,

mas que apenas possuo

da sombra,

na viva solidão da multidão quieta,

entre as carícias do silêncio ao pensamento,

sem esforço levado

a sofrer, a sentir

o que de eterno há num momento!

 

Em ti, a vida,

mais viva porquanto mais alada

em fantasia livre,

sem noites e sem dias,

brutal ou delicada,

é síntese movendo-se

em transcendência de tristezas e alegrias,

numa calma final de nuvens macias como penas,

que tempestades não consomem,

de encontro ao metálico recorte

das projecções estéticas do homem!

 

Cinema!

mais que tudo, és

o que lá fora buscam almas inquietas!

Mais que tudo, nos dás

o sonho que das almas sobe

nas imagens dos poetas!

Edmundo Bettencourt na antologia Poemas Com Cinema

 

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