segunda-feira, 18 de outubro de 2021

CONVERSANDO

Quarenta anos sem Adriano Correia de Oliveira.

É bom que os mortos regressem, mas sem alvoroço.

Como disse Eduardo Prado Coelho sobre Fernando Echevarria:

«Regressam como quem regressa ao fim da tarde, e tudo se passa numa espécie de paisagem rural de sinos e lareiras. Ou, às vezes, nas ruas amaciadas da cidade – mas como se o ruído se tivesse retirado, e ficasse apenas o pacífico contorno nas imagens.»

Hoje, relendo este texto do Eduardo sobre Fernando Echevarria, (o livro é de Abril de 1994), interrogo-me como de imediato não fui em busca dos seus livros. Não é tarde demais mas o tempo perdido não volta e muitas outras coisas perdi não lendo Echevarria.

Teria eu lido, com olhos de ver, os textos do Eduardo?

«Para falar de tudo isto seria preciso que eu me debruçasse amorosamente sobre a teia de cada um destes poemas. É um trabalho que vale a pena. Afinal de contas, esta poesia só pode ser assim. Apenas um exemplo:

É mais fácil sentar-se quando os mortos

predominam à volta. Sem os vermos,

a escura transparência dos seus olhos

prepara o espaço onde fiquemos sendo

atenção a escoar-se. Mas de corpo

inteiramente dado à paz do peso.

Chamam a isto ficar alguém absorto.

Porque, enquanto se parte pelo espaço dentro,

o volume gravita de tal modo

que a alma se ergue. E um lugar intenso

fica pairando. E ver, então, é próximo

e sentar-nos no imóvel azul do pensamento.»

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