Quarenta anos sem Adriano Correia de Oliveira.
É
bom que os mortos regressem, mas sem alvoroço.
Como
disse Eduardo Prado Coelho sobre Fernando Echevarria:
«Regressam
como quem regressa ao fim da tarde, e tudo se passa numa espécie de paisagem
rural de sinos e lareiras. Ou, às vezes, nas ruas amaciadas da cidade – mas como
se o ruído se tivesse retirado, e ficasse apenas o pacífico contorno nas
imagens.»
Hoje,
relendo este texto do Eduardo sobre Fernando Echevarria, (o livro é de Abril de
1994), interrogo-me como de imediato não fui em busca dos seus livros. Não é
tarde demais mas o tempo perdido não volta e muitas outras coisas perdi não
lendo Echevarria.
Teria
eu lido, com olhos de ver, os textos do Eduardo?
«Para
falar de tudo isto seria preciso que eu me debruçasse amorosamente sobre a teia
de cada um destes poemas. É um trabalho que vale a pena. Afinal de contas, esta
poesia só pode ser assim. Apenas um exemplo:
É
mais fácil sentar-se quando os mortos
predominam
à volta. Sem os vermos,
a
escura transparência dos seus olhos
prepara
o espaço onde fiquemos sendo
atenção
a escoar-se. Mas de corpo
inteiramente
dado à paz do peso.
Chamam
a isto ficar alguém absorto.
Porque,
enquanto se parte pelo espaço dentro,
o
volume gravita de tal modo
que
a alma se ergue. E um lugar intenso
fica
pairando. E ver, então, é próximo
e
sentar-nos no imóvel azul do pensamento.»
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