Os primeiros dias do ano de 1968, trouxeram para Mário Sacramento a morte de seu pai no dia 16 de Janeiro. O Diário, durante alguns dias, regista essa morte.
«É
difícil dizer o que sinto. Um Pai é sempre um Pai. Mas o horror que era a sua
vida, quantas vezes me fez desejar – por ele – a sua morte? Cego há vinte e tal
anos, surdo há não sei quantos, ouvindo apenas, e a custo, com um aparelho de
prótese auditiva, conservando um amor feroz à vida que nunca o deixou
resignar-se ou dispor-se a atentar contra ela, sofrendo e fazendo sofrer…
Solidão total! Agarrado ao aparelho de transmissão-escuta de radioamador, o seu
frenesim de homem que fora o mais que é possível extrovertido enchia os dias de
allos-allos infatigáveis! Que espanto a vida! Como é
possível querer-lhe alguém deste modo, mesmo no abismo da détresse!»
Uma
frase tirada do contexto:
«Por
qualquer ponta que a tomemos, a morte está sempre errada.»
Um
pormenor tirado também do contexto:
«Três
radioamadores de Coimbra deslocaram-se de propósito para estarem apenas um
minuto connosco! É mais fácil unir os homens do que muitos cuidam! Disseram-me:
Era uma voz que nós conhecíamos – e deixámos de ouvir…»
Ainda
uma outra frase solta:
«Um
homem só está vivo enquanto se projecta no futuro.»
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