Granta
Nº 2
Direcção e Editorial: Carlos Vaz Marques
Textos de José Eduardo Agualusa, Miguel
Esteves Cardoso, Hélia Correia,
Afonso Cruz, José Gardeazabul,
Luísa Costa Gomes, Ana Teresa
Pereira, João Pina, Raquel
Ribeiro, Gonçalo M. Tavares
Capa: João Pina
Edições Tinta-da-China, Lisboa, Outubro de
2013
Durante
muito tempo não quis saber do Ochoa, precisamente porque o meu trabalho não era
sobre política. Mas houve um escritor que um dia me disse: «Para compreender a
maneira como Cuba olha para Angola se materializava naquela obsessão pelo Ochoa
que ainda existe na sociedade cubana. O trauma não é Angola, ou a guerra: o
trauma é terem fuzilado aquele homem, filmado o julgamento, transmitido
diariamente na televisão como um reality show sobre um crime e o seu castigo, a
autocritica, o mea culpa, peito
aberto às bals. Os militares do Ministério do Interior de Camaguey só tinham
medo que eu fizesse perguntas sobre o Ochoa, nem queriam saber de Angola. Quem
me teria denunciado? Talvez nunca venha a sbar, mas sei agora que a minha
teoria se concretizou ali, diante do Freddy e do Nicoklai.
Dias
depois de tudo, li assim, num verso do poeta cubanoo Carlos Esquivel (que
também esteve em Angola): «Nunca vuelvas donde fuiste feliz, porque es
peligroso ser feliz dos veces.» E eu, que fora a Cuba tantas vezes desde 2005,
primeiro deslumbrada, depois desiludida, cansada de tanto sorrir – aprendera finalmente
a lição.
Raquel Ribeiro do texto «É Perigoso Feliz Duas Vezes»
Nota do editor: Arnaldo Ochoa foi um
alto general do regime cubano que acabou fuzilado, acusado de tráfico de droga,
de diamantes, e de marfim, e de ligações com Pablo Escobar, na Colômbia.
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