segunda-feira, 14 de março de 2022

CHAPLIN'S WORLD


Para concluir este pequeno ciclo de textos alusivos a Charles Chaplin, apenas umas curtas palavrinhas acerca do “Chaplin’s World” que, como já vos disse, foi aberto ao público na Primavera de 2016

É composto por três zonas distintas: a casa onde Chaplin viveu e os enormes jardins adjacentes, um Museu construído de raiz e um espaço destinado a venda de “memorabilia” e a restauração.

A casa tem abertos ao público dois andares e é suposto manter todo o mobiliário, quadros, “bibelots” e loiças originais, o que, já se sabe, é sempre de muito duvidosa verdade porque os herdeiros dificilmente iriam abrir mão de conservar alguns objetos de recordação pessoal em seu poder. Em muitas destas salas foram colocados manequins em tamanho natural, designadamente de Chaplin e da sua mulher, Oona. Mas também Albert Einstein por lá aparece, vá lá perceber-se bem porquê. Talvez pela sua grande amizade para com Chaplin.


Podendo ser o espaço mais interessante, por tudo aquilo que nos poderia mostrar acerca dos gostos pessoais e da intimidade de Chaplin, acaba por não o ser devido a alguma descaracterização que atrás vos referi, mas também ao facto de todas as salas e quartos serem pequenos e estarem apinhadas de gente, pelo que é difícil vê-los convenientemente e muito mais ainda fazer uma fotografia em condições.


O Museu propriamente dito acaba por ser o mais interessante e tem tudo o que se espera encontrar em espaços desta natureza: cartazes dos principais filmes, um exemplar da inconfundível roupa de “Charlot”, desde o chapéu até aos enormes sapatos, não esquecendo a indispensável e muito útil (para fins diversos…) bengala, os dois Óscares atribuídos a Chaplin, o Honorário em 1972 e o de melhor banda sonora para “Luzes da Ribalta” no ano seguinte, e também uma pedra que era parte integrante do célebre estúdio de Chaplin, situado em La Brea, Hollywood. Mas isto que vos digo é apenas uma pequeníssima parte do que lá se encontra em exibição já que, para além de eu próprio não me lembrar de tudo, enumerá-lo aqui seria fastidioso.


Para os amantes de fotografias alusivas aos filmes, o Museu tem outros lugares curiosos: para cada um dos principais filmes, desde as curtas iniciais até às longas metragens finais, há um espaço alusivo onde passam os filmes e existe um cenário que pretende evocar a memória de uma determinada cena do filme: é possível sentarmo-nos à mesa da casa oscilante de “A Quimera do Ouro”, onde Charlot comeu um opíparo sapato e chupou os atacadores como se de esparguete se tratasse, pormos o nosso corpo na diabólica engrenagem industrial de “Os Tempos Modernos”, sentarmo-nos ao lado da ceguinha de “As Luzes da Cidade”, irmos aparar o cabelo ao barbeiro judeu de “O Grande Ditador” e por aí fora… A pequenada adora tirar fotografias, e alguns adultos também. Eu que o diga…

Em alguns destes espaços, em jeito de homenagem, surgem-nos personagens da comédia americana (e não só…) que nada têm a ver com os filmes de Chaplin: vemos Buster Keaton, Harold Lloyd, Bucha e Estica e até Roberto Benigni e Woody Allen por lá aparecem.

Finalmente, a loja de recordações tem à venda tudo quanto se pode esperar. Filmes, livros, posters, T-shirts, bonecos e bugigangas de toda a natureza alusivas a Chaplin e, sobretudo, a Charlot. Foi lá que comprei o livro de Eugene Chaplin de que já aqui vos falei, alguns postalecos e um boneco do Charlot para oferecer aos meus Queridos Netos. Mas a caminho do aeroporto pus-me a pensar melhor: um só boneco para três netos (os que existiam à época…) vai dar discussão; para além disso, e apesar de todo o meu esforço para lhes mostrar alguns filmes, que amor e que ligação tem esta miudagem ao Charlot…? Nenhuma, é claro…!

Foi uma brilhante autojustificação esta que encontrei para esquecer os netos e fazer sentar o Charlot na minha estante da sala, tendo a pequenada sido generosamente compensada com uma razoável quantidade dos excelentes chocolates suíços, que certamente lhes terão proporcionado muito mais prazer do que o teria feito o pobre Charlot…!

Museus como este são importantes para preservar a memória de Chaplin/Charlot. Mas muito mais importante do que isso seria uma regular passagem dos filmes, coisa que me parece ter deixado de suceder, pelo menos por cá. Não passam na televisão, não têm direito a exibição na Cinemateca, deixaram de existir as saudosas “reposições de Verão… É também verdade que para a miudagem dos nossos dias filmes a preto-e-branco são dificilmente suportáveis, mas, ainda assim, espero que não passe pela cabeça de nenhum esperto a sua colorização, como sucedeu a tantas obras-primas do cinema americano.

E pronto! De Charlot e de Chaplin, já basta… 

Texto e fotografias de Luís Miguel Mira

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