Para
concluir este pequeno ciclo de textos alusivos a Charles Chaplin, apenas umas
curtas palavrinhas acerca do “Chaplin’s World” que, como já vos disse, foi
aberto ao público na Primavera de 2016
É
composto por três zonas distintas: a casa onde Chaplin viveu e os enormes
jardins adjacentes, um Museu construído de raiz e um espaço destinado a venda
de “memorabilia” e a restauração.
A
casa tem abertos ao público dois andares e é suposto manter todo o mobiliário,
quadros, “bibelots” e loiças originais, o que, já se sabe, é sempre de muito
duvidosa verdade porque os herdeiros dificilmente iriam abrir mão de conservar
alguns objetos de recordação pessoal em seu poder. Em muitas destas salas foram
colocados manequins em tamanho natural, designadamente de Chaplin e da sua
mulher, Oona. Mas também Albert Einstein por lá aparece, vá lá perceber-se bem
porquê. Talvez pela sua grande amizade para com Chaplin.
Podendo ser o espaço mais interessante, por tudo aquilo que nos poderia mostrar acerca dos gostos pessoais e da intimidade de Chaplin, acaba por não o ser devido a alguma descaracterização que atrás vos referi, mas também ao facto de todas as salas e quartos serem pequenos e estarem apinhadas de gente, pelo que é difícil vê-los convenientemente e muito mais ainda fazer uma fotografia em condições.
O
Museu propriamente dito acaba por ser o mais interessante e tem tudo o que se
espera encontrar em espaços desta natureza: cartazes dos principais filmes, um
exemplar da inconfundível roupa de “Charlot”, desde o chapéu até aos enormes
sapatos, não esquecendo a indispensável e muito útil (para fins diversos…)
bengala, os dois Óscares atribuídos a Chaplin, o Honorário em 1972 e o de
melhor banda sonora para “Luzes da Ribalta” no ano seguinte, e também uma pedra
que era parte integrante do célebre estúdio de Chaplin, situado em La Brea,
Hollywood. Mas isto que vos digo é apenas uma pequeníssima parte do que lá se
encontra em exibição já que, para além de eu próprio não me lembrar de tudo,
enumerá-lo aqui seria fastidioso.
Para
os amantes de fotografias alusivas aos filmes, o Museu tem outros lugares
curiosos: para cada um dos principais filmes, desde as curtas iniciais até às
longas metragens finais, há um espaço alusivo onde passam os filmes e existe um
cenário que pretende evocar a memória de uma determinada cena do filme: é
possível sentarmo-nos à mesa da casa oscilante de “A Quimera do Ouro”, onde Charlot
comeu um opíparo sapato e chupou os atacadores como se de esparguete se
tratasse, pormos o nosso corpo na diabólica engrenagem industrial de “Os Tempos
Modernos”, sentarmo-nos ao lado da ceguinha de “As Luzes da Cidade”, irmos
aparar o cabelo ao barbeiro judeu de “O Grande Ditador” e por aí fora… A
pequenada adora tirar fotografias, e alguns adultos também. Eu que o diga…
Em
alguns destes espaços, em jeito de homenagem, surgem-nos personagens da comédia
americana (e não só…) que nada têm a ver com os filmes de Chaplin: vemos Buster
Keaton, Harold Lloyd, Bucha e Estica e até Roberto Benigni e Woody Allen por lá
aparecem.
Finalmente,
a loja de recordações tem à venda tudo quanto se pode esperar. Filmes, livros,
posters, T-shirts, bonecos e bugigangas de toda a natureza alusivas a Chaplin
e, sobretudo, a Charlot. Foi lá que comprei o livro de Eugene Chaplin de que já
aqui vos falei, alguns postalecos e um boneco do Charlot para oferecer aos meus
Queridos Netos. Mas a caminho do aeroporto pus-me a pensar melhor: um só boneco
para três netos (os que existiam à época…) vai dar discussão; para além disso,
e apesar de todo o meu esforço para lhes mostrar alguns filmes, que amor e que
ligação tem esta miudagem ao Charlot…? Nenhuma, é claro…!
Foi
uma brilhante autojustificação esta que encontrei para esquecer os netos e
fazer sentar o Charlot na minha estante da sala, tendo a pequenada sido
generosamente compensada com uma razoável quantidade dos excelentes chocolates
suíços, que certamente lhes terão proporcionado muito mais prazer do que o
teria feito o pobre Charlot…!
Museus
como este são importantes para preservar a memória de Chaplin/Charlot. Mas
muito mais importante do que isso seria uma regular passagem dos filmes, coisa
que me parece ter deixado de suceder, pelo menos por cá. Não passam na
televisão, não têm direito a exibição na Cinemateca, deixaram de existir as
saudosas “reposições de Verão… É também verdade que para a miudagem dos nossos
dias filmes a preto-e-branco são dificilmente suportáveis, mas, ainda assim,
espero que não passe pela cabeça de nenhum esperto a sua colorização, como
sucedeu a tantas obras-primas do cinema americano.
E pronto! De Charlot e de Chaplin, já basta…
Texto
e fotografias de Luís Miguel Mira
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