sexta-feira, 4 de março de 2022

OLHARES


 Não faz parte dos inúmeros e incondicionais leitores do panteão onde se louva Jorge Luís Borges.

Sabe-se que não recebeu o Prémio Nobel devido ao alinhamento político que manteve com a ditadura argentina.

Jorge Cortazar contava que Jorge Luís Borges recusara assinar um manifesto contra a ditadura, alegando que não sabia de nada.

Amargamente, Cortazar, lembrou que ele vivia junto do edifício da polícia política.

«É cego, mas não surdo, e, certamente ouviu, os gritos dos suplicantes encarcerados.»

Certamente esta história afastou-o de Borges. Leu muito pouco.

António Mega Ferreira é um enorme admirador de Jorge Luís Borges. Em 1980 entrevistou o autor. «Borges ao Anoitecer» consta de «Retratos de Sombra»:

«É contra as ditaduras?

Uma pausa, «Contra todas não, pelo menos em abstracto. Admito que possa haver ditaduras que sejam boas.» Outra pausa, mais longa: «Mas devo confessar que não sei da existência de nenhuma que tenha sido positiva.»

Defende então a democracia?

Também não. Foi a democracia que conduziu ao poder demagogos como Hitler ou Péron.

Que propõe, então?

Não sei. Sabe, eu tenho dificuldade em compreender as coisas reduzidas às fronteiras de um país, muito menos de um partido,político. Eu não sou, nunca fui um nacionalista. Sinto-me igualmente cidadão de Genève, Londres e Buenos Aires. Oenso que há mais segurança no bairro chinês ou no bairro italiano de Nova Iorque do que em muitos países onde há um governo forte. O que há ali são formas de autoridade que escapam totalmente à lógica dos governos: uma antiquíssima cultura ou uma Máfia organizada. Por isso sou céptico em relação aos governos que se assumem como tal: quero im mínimo de governo, e muito curto.

E acha que, um dia, seremos er capazes de merecer…

… que pura e simplesmente, os governos deixem de existir.»

 

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