Não faz parte dos inúmeros e incondicionais leitores do panteão onde se louva Jorge Luís Borges.
Sabe-se que não recebeu o Prémio Nobel devido ao alinhamento
político que manteve com a ditadura argentina.
Jorge Cortazar contava que Jorge Luís Borges recusara assinar um manifesto
contra a ditadura, alegando que não sabia de nada.
Amargamente, Cortazar, lembrou que ele vivia junto do edifício da polícia
política.
«É cego, mas não surdo, e, certamente ouviu, os gritos dos suplicantes
encarcerados.»
Certamente esta
história afastou-o de Borges. Leu muito pouco.
António Mega Ferreira
é um enorme admirador de Jorge Luís Borges. Em 1980 entrevistou o autor. «Borges ao Anoitecer» consta de «Retratos de Sombra»:
«É contra as ditaduras?
Uma pausa, «Contra todas não, pelo menos em abstracto. Admito que possa
haver ditaduras que sejam boas.» Outra pausa, mais longa: «Mas devo confessar
que não sei da existência de nenhuma que tenha sido positiva.»
Defende então a democracia?
Também não. Foi a democracia que conduziu ao poder demagogos como
Hitler ou Péron.
Que propõe, então?
Não sei. Sabe, eu tenho dificuldade em compreender as coisas reduzidas
às fronteiras de um país, muito menos de um partido,político. Eu não sou, nunca
fui um nacionalista. Sinto-me igualmente cidadão de Genève, Londres e Buenos
Aires. Oenso que há mais segurança no bairro chinês ou no bairro italiano de
Nova Iorque do que em muitos países onde há um governo forte. O que há ali são
formas de autoridade que escapam totalmente à lógica dos governos: uma
antiquíssima cultura ou uma Máfia organizada. Por isso sou céptico em relação
aos governos que se assumem como tal: quero im mínimo de governo, e muito
curto.
E acha que, um dia, seremos er capazes de merecer…
… que pura e simplesmente, os governos deixem de existir.»
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