Já vos disse que um dos livros cuja leitura, no passado ano, mais me encantou, foi De Maneira Que É Claro… de Mário de Carvalho.
Outro livro de encantamento de que não consigo separar-me
é Para Quê Tudo Isto?, biografia de Manuel António Pina escrita por
Álvaro Magalhães.
Comprei-o na época natalícia mas só nos alvores deste ano
o comecei a ler.
São 479 páginas, é certo, começadas a ler em 2 de
Fevereiro, mas não é pela quantidade de páginas que ainda não o acabei. Nem
quero acabar, e quando isso acontecer, sei que irei sentir um enorme baque que
me vai deixar fortes sequelas.
Não é pelo livro estar bem escrito que a demora tem
acontecido. É, essencialmente, por passar a conhecer pormenores de vida que desconhecia
e engrandecem, mais ainda, um poeta, um jornalista, um homem que sempre me
fascinou.
Como Seve, viajante deste blogue, escrevia, há dias, na
caixa de comentários: «Nunca vi o Manuel
António Pina (só o li) mas foi uma pessoa de quem sempre gostei muito, um ser
humano que sempre me fascinou, uma boa pessoa, daquelas que tornam o mundo belo
e melhor.»
Na página 54 é transcrito um passo de uma entrevista de
Pina ao Público:
«Eu sempre tive uma vida mais ou menos pacata, uma vida
com sobressaltos normais, e as grandes emoções da minha vida, os grandes
momentos, os mais fortes, em termos afectivos, em termos psicológicos, foram
através dos livros.»
Na página 202 aparece o poema «A Poesia vai acabar».
Não tenho todos os seus livros de poesia, para compensar
algum atraso, tratei de comprar a Poesia
Reunida, que não contempla este poema.
É este o poema:
A poesia vai
acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
- Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar?
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