sábado, 19 de outubro de 2013

ANTIGAS COMUNIDADES


Nunca se esquecerão estes cafés ou estas pastelarias provinciais tão exactas e barulhentas nos Domingos de Fevereiro. Às vezes ainda retardam as decorações natalícias. Mas o que melhor exibem são as taças e galhardetes ganhos pelo grupo desportivo local entre as escassas garrafas das prateleiras. Uma salamandra ou uma braseira rodeiam-se de gente comunicativa das bandejas e do incansável moinho de café. O «cheirinho» no café. A humidade mostra-se nas paredes sob as desafiadoras beldades tropicais dos calendários. Cinzeiros improvisados. Uma raposa embalsamada sobre o televisor. Os empregados transtornados pela muita solicitação. Uma cerveja que se entornou. A serradura que junta cascas de tremoços e amendoins pelo chão. As cores excessivas da televisão. E o relato de futebol por fundo. E as vozes a subir de tom. E a tosse. E a criança que começa a chorar. E o cão que entra para ser escorraçado. Oh estes cafés são os foros das antigas comunidades.

Manuel Hermínio Monteiro em Urzes, Edição O Independente Lisboa 2004

Legenda: fotografia de Willy Ronis

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