Nos tempos da minha infância, as aulas da instrução primária começavam a 7 de Outubro.
Fazia frio e chuva.
Hoje tudo mudou: o início das aulas e os dias de
Outubro já não são de chuva e frio.
Fica aqui um bonito texto de Joaquim Nascimento
encontrado no Largo da Memória:
No início do ano lectivo fico atento à algazarra que
se ouve na proximidade das escolas para conferir se ainda é o mesmo que se
ouvia na minha aldeia, quando havia crianças e a escola abria, pontualmente,
todos os anos.
Os livros e o material escolar eram então mais escassos, o que me leva a cobiçar as volumosas mochilas, recheadas de livros, de cadernos e de auxiliares pedagógicos que também dei às minhas filhas e que agora vou espreitando nas prateleiras das lojas, com enorme vontade de comprar.
No meu tempo, havia o livro único para cada uma das classes obrigatórias e, para além do livro, tínhamos uma lousa, um ponteiro, um giz, uma pena, um lápis, às vezes meia dúzia de cores, um caderno de linhas, que na primeira classe era de duas, para que as letras saíssem alinhadas e da mesma altura. E uma sacola modesta de serapilheira que transportávamos a tiracolo para ficarmos com as duas mãos livres para correr, para brincar, para lutar. Tudo com parcimónia como era norma, nesse tempo do livro único!
Desde então, guardei na memória o meu Livro da Primeira Classe e procurei-o durante anos, para lhe voltar a encontrar o cheiro, as cores, o tamanho e o toque.
Encontrei-o, finalmente, não uma reprodução qualquer, mas o próprio, o verdadeiro, ele mesmo, já usado, com algumas folhas soltas, mas completo. Nunca mais o vou perder!
Tinham passado mais de cinquenta anos, mas o cheiro ainda lá estava, as figuras de cada página eram-me familiares e ainda sabia de cor grande parte das lições.
Desde então guardo-o com usura e desfolho-o de longe em longe com todo o cuidado, não vá ele desfazer-se, e quem quiser tê-lo nas mãos tem que me dar garantias de que sabe manusear livros preciosos, ou que está disposto a aprender.
Por estes dias voltarei a abrir o meu livro da primeira classe, com a algazarra de crianças em fundo, e não deixarei de conferir se alguma das primeiras letras se apagou ou se alguma figura se escondeu, sem me dizerem nada.
Os livros e o material escolar eram então mais escassos, o que me leva a cobiçar as volumosas mochilas, recheadas de livros, de cadernos e de auxiliares pedagógicos que também dei às minhas filhas e que agora vou espreitando nas prateleiras das lojas, com enorme vontade de comprar.
No meu tempo, havia o livro único para cada uma das classes obrigatórias e, para além do livro, tínhamos uma lousa, um ponteiro, um giz, uma pena, um lápis, às vezes meia dúzia de cores, um caderno de linhas, que na primeira classe era de duas, para que as letras saíssem alinhadas e da mesma altura. E uma sacola modesta de serapilheira que transportávamos a tiracolo para ficarmos com as duas mãos livres para correr, para brincar, para lutar. Tudo com parcimónia como era norma, nesse tempo do livro único!
Desde então, guardei na memória o meu Livro da Primeira Classe e procurei-o durante anos, para lhe voltar a encontrar o cheiro, as cores, o tamanho e o toque.
Encontrei-o, finalmente, não uma reprodução qualquer, mas o próprio, o verdadeiro, ele mesmo, já usado, com algumas folhas soltas, mas completo. Nunca mais o vou perder!
Tinham passado mais de cinquenta anos, mas o cheiro ainda lá estava, as figuras de cada página eram-me familiares e ainda sabia de cor grande parte das lições.
Desde então guardo-o com usura e desfolho-o de longe em longe com todo o cuidado, não vá ele desfazer-se, e quem quiser tê-lo nas mãos tem que me dar garantias de que sabe manusear livros preciosos, ou que está disposto a aprender.
Por estes dias voltarei a abrir o meu livro da primeira classe, com a algazarra de crianças em fundo, e não deixarei de conferir se alguma das primeiras letras se apagou ou se alguma figura se escondeu, sem me dizerem nada.
o desencontro das estações do ano permitindo que em Outubro
os dias não sejam de chuva nem frio como na minha infância.
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