domingo, 13 de outubro de 2013

POSTAIS SEM SELO


Morávamos no Norte da cidade onde a cidade acabava e quase logo a seguir à casa dos meus avós começavam campos, oliveiras, rebanhos. Sempre que podia deitava-me na relva a ouvir os pássaros e as folhas, mesmo sem vento, que brilhavam na luz. Recordo-me dos bancos de azulejo, das estátuas de louça. O meu avô chegava do Grémio, trocava o casaco por um casaco de linho branco e ficava a fumar sem dizer nada. Ao dar por mim sorria. É estranho que esse sorriso ainda hoje seja importante para mim.

António Lobo Antunes, Livro de Crónicas, 1º volume, Publicações Dom Quixote, Lisboa Novembro de 1998.

Legenda: não foi possível localizar o autor/origem da fotografia.

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