Morávamos no Norte da cidade onde a cidade acabava e quase
logo a seguir à casa dos meus avós começavam campos, oliveiras, rebanhos.
Sempre que podia deitava-me na relva a ouvir os pássaros e as folhas, mesmo sem
vento, que brilhavam na luz. Recordo-me dos bancos de azulejo, das estátuas de
louça. O meu avô chegava do Grémio, trocava o casaco por um casaco de linho
branco e ficava a fumar sem dizer nada. Ao dar por mim sorria. É estranho que
esse sorriso ainda hoje seja importante para mim.
António Lobo Antunes, Livro de Crónicas, 1º volume,
Publicações Dom Quixote, Lisboa Novembro de 1998.
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