A memória de elefante que me gabava de ter, há já algum
tempo que partiu para as pradarias. Hoje, debato-me com metade do cérebro adormecido,
tentar lembrar nomes, datas, episódios e encontrar um amontoado de brancas, de
vazio.
Por vezes, a meio da tarde, já não lembro o que almocei.
A memória é das coisas mais frágeis que há, ouve-se dizer e
João Bénard da Costa escreveu que terá lido em Romain Rolland que Léon Tolstoi
guardava a memória de coisas acontecidas tinha ele seis meses.
Lê-se nas Memórias Para o Ano 2000, a
missão do homem na terra é lembrar-se.
Pois.
Sentir que estou a perder a memória e não basta murmurar: I’m
old.
Augusto Abelaira à conversa com Mário Ventura:
A passagem dos anos, acho que inquieta todas pessoas. O que me mete verdadeiramente
medo não é a morte, mas a velhice. A perde de faculdades – e eu sinto que
algumas estou a perder, a memória por exemplo. Leio um livro, de que gostei
muito, depois quero lembrar-me do que li, e de facto esqueci-me Não ficou cá. E
dantes ficava.
Numa entrevista ao JL, por ocasião do lançamento do
livro José-Augusto França:
Trata-se de um livro de rigor. Sempre que me lembrava de uma coisa, de
alguém, ou de um acontecimento, tratava de reconstituir tudo o que existia à
volta dessa lembrança. Consultei muitas agendas das de bolso, por exemplo.
Guardo-as desde 1946, numa gaveta. Se me perguntar o que fiz no dia 14 de
Fevereiro de 1957, posso-lhe dizer. Vou à agenda. De facto, em tantos perdi uma
agenda em Paris, o que me tirou seis meses de vida.
Fosse o tipo meticuloso, organizado que gostava de ter sido,
sabia hoje muitas coisas de que já soube mas lhes perdeu o rasto.
Bastava uma simples agenda.
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