Toda a vida ouvi dizer que uma boa instrução primária era
meio caminho andado para o sucesso escolar nos níveis seguintes. Nos poucos
anos em que fui professora, tive uma turma excelente que tinha vindo toda junta
da então quarta classe e lamento agora não me lembrar do nome da professora que
acompanhara esses alunos, pois ela merecia que a felicitasse aqui publicamente.
Há umas duas semanas vi, num Telejornal, uma reportagem sobre quatro
professoras do ensino básico que, por fecho de escolas e aumento do número de
alunos por turma na sua área de residência – julgo que em Montalegre,
Trás-os-Montes –, perderam o lugar que tinham e fazem agora 570 quilómetros
todos os dias até à nova escola, revezando-se a conduzir o automóvel e
dividindo os gastos com a gasolina. Acordam certamente às quatro da manhã, pois
as aulas começam às nove, e têm filhos pequenos que não podem acordar nem levar
ao infantário. Quando regressam, só podem dar-lhes o jantar e metê-los na cama,
antes de caírem também elas no sono, obviamente exaustas e sem força para mais
nada. Se fossem solteiras, talvez considerassem a mudança de casa para o local
de trabalho, mas, com as vidas arranjadas há muito, não vêem outra hipótese
senão a longa viagem multiplicada por duas (ida e volta). Pergunto-me se estas
senhoras conseguirão, nas circunstâncias descritas, ser boas professoras e ter
paciência para um ror de crianças barulhentas. Uma delas disse até que estava
até a pensar deixar o ensino e fazer outra coisa – e interrogo-me também se não
é isto mesmo que querem que faça, com tanto professor à espera de colocação… Os
miúdos ainda hão-de pagar a factura destas deslocações. Com IVA, claro.
Maria do Rosário Pedreira em Horas Extraordinárias
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