Não são necessárias datas redondas.
José Cardoso Pires morreu há 25 anos.
Quem te deu licença de morrer? escreveu António Lobo Antunes,
por um outro alguém.
Ou ainda numa crónica:
Saudades do Zé Cardoso Pires, saudades do Ernesto Melo Antunes: passou
que tempos e não me habituo. Por que razão não falam comigo, vocês?
E um grande silêncio no meio da gente, um vazio que dói.
E ainda:
Fazes-me tanta falta, meu cabrão, há tanto para contarmos um ao outro.
O fim de uma amigo é um martírio, não páras de te agitar cá dentro, raios te
partam. Tu e o Ernesto melo Antunes: duas feridas abertas que não saram.
E Agora, José?
Ficava bem qualquer coisa feliz, das muitas que andam por Lisboa,
Diário de Bordo.
Mas talvez o final daquele De Profundis, Valsa Lenta,
Janeiro de 1997:
Dois anos. Já dois sobre isto e só hoje é que dou por encerrada para
sempre a minha viagem à desmemória, arquivando-a nestes apontamentos escritos à
deriva por indícios trazidos na corrente. Vou interrogando e retendo, apurando
a caligrafia da recomposição, e quando chego ao convite do meu companheiro de
hospital para uma celebração de lagosta com champanhe, não hesito em fechar e
pôr assinatura no texto. Disse e vivi, Acta est fabula.
Como despedida, a festa anunciada parece-me uma vinheta condigna mas,
se me é permitido, acrescento-lhe um fio de música.
Pois é, José.
Tal como quando estavas chateado e dizias que a culpa
é dos padres ou, outra vez o Lobo Antunes, o meu amigo José Cardoso Pires
usava uma expressão para isto, tira a tesão a um mocho e sobra a Alexandra a dizer que isto continua a não ser um país, continua a
ser um sítio mal frequentado.
Legenda: fotografia de Luís Ramos em Ler nº 0, Outono/Inverno
1987.
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