Miguel Torga, no seu
Diário, registando a morte de
Jacques Brel, ocorrida neste dia do ano de 1978:
Morreu Jacques Brel. E estão de luto todos aqueles que sabiam que ele
dizia mais aos homens com os seus versos truculentos e as suas canções
dilaceradas do que muitos poetas laureados com os seus poemas herméticos.
Trovador dos nossos dias, a ganir por não ser amado à altura a que pôs o amor,
e a amar Deus na pele do Diabo, foi uma das raras encarnações raivosas do
artista empenhado em reflectir o mundo inteiro no espelho da sua própria
aflição. E consegui-o. Não é apenas um tal, de fisionomia tal, que ouvimos
quando canta. É uma alma penada, em carne viva a penar por todos nós.
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