segunda-feira, 14 de outubro de 2013

NOTÍCIAS DO CIRCO


Brilharete do governo: dezassete horas de trabalho num domingo para parir o Orçamento para , que será ainda pior que aquele que, desgraçadamente, nos tem acompanhado neste ano quase a findar.

Bem o sentimos, bem o sentimos!

Este bando de adolescentes, e gente imatura, tal como lhes chamou o insuspeito Marques Mendes, não para de nos tramar.

Como escreveu, hoje, Ana Sá Lopes, no jornal I:

O Presidente da República cometeu um grave erro quando, depois de num primeiro momento ter manifestado desconfiança na solução avançada pelo PSD e CDS para a crise na coligação, não convocou eleições antecipadas no Verão. A “confiança” e a “solidez” quebraram-se para nunca mais voltar. Pedro e Paulo vão continuar a odiar-se em privado e já não o conseguem esconder convenientemente em público. As respectivas cortes estão tão acirradas como na semana que se seguiu à demissão de Vítor Gaspar. E não existe limite para a “falta de escrúpulos”: quando o Orçamento for público, ele revelar-se-á em todo o seu esplendor.

Ou José Pacheco Pereira:

Será que o Presidente ainda não entendeu que não tem governo, tem um ajuntamento de conveniência em que os egos, as vinganças, as rasteiras, o salvar a sua própria pele são a regra e a motivação de todos os dias? Antes o cancro do governo era Relvas, hoje é Portas, mas em ambos os casos a primeira responsabilidade é de Passos Coelho e Cavaco Silva. E visto a voo de pássaro tudo parece desconjuntado, como efectivamente é. Pobre país, o nosso.

Pelo meio, Rui Machete ainda não se demitiu nem foi demitido, na Europa, a extrema-ganha cada vez mais espaço e, nos finalmente, o governo de adolescentes e imaturos, entregará, amanhã, na Assembleia da República a proposta de orçamento para o ano que vem, ano velho, tão velho e triste como os últimos que nos têm acontecido.

Num outro contexto, corria o ano de 1960, o poeta António Ramos Rosa, num telegrama sem classificação especial, gritou: Estamos nus e gramamos.

Nos dias de hoje, passado o tempo que passou, o grito de António Ramos Rosa é uma verdade tão nua como crua:

Estamos nus e gramamos.

Na grama secular um passarinho verde
canta para um poema lírico, para um poeta lírico, 
que se nasceu
é certo que não cantou.

As paisagens continuam a existir.
As paisagens são suaves.
Continuam também a existir
outras coisas
que dão matéria para poemas.
A vida continua.
Felizmente que há ódios, comichões, vaidades.
A estupidez, esta crassa crença intratável, esta confiança indestrutível em si em si mesmo,
é o que felizmente dá uma densidade, uma plenitude a isto.
Num mundo descoroçoante de puras imagens
é bom este banho de resistências, pressões, vontades, atritos,
é bom navegar.
porque este presente é logo saudoso.

Na grama um passarinho canta.
Evidentemente que o poeta suicidou-se.
A vida continua.
Certas coisas que pareciam mortas
estão agora vivas ou, pelo menos, mexem-se.
Ausentes, dominam-nos.
Não é para nós que utilizam as palavras, 
que insistem,
não é para nós!
Estes grandes ornamentos, estes sábios discursos
fluem em visões, em ondas, como se não no presente.
Ter-se-á o presente extinguido?
A vida continua tão improvavelmente.

Na grama um passarinho canta.
Canta por cantar, ou não, canta.
Eu poderia, com rigor, agora
cantar:
                      Os anjos exactos
                      que empunham tesouras
                      de encontro aos factos
                      - ó minhas senhoras!

Ou rigorosamente ainda,
com veemente exactidão,
inutilizar o poema,
todos os poemas
porque



Estamos nus e gramamos.

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