Brilharete do governo: dezassete horas de trabalho num domingo para parir o Orçamento para , que será ainda pior que aquele que, desgraçadamente, nos tem acompanhado neste ano quase a findar.
Bem o sentimos, bem
o sentimos!
Este bando de adolescentes, e gente imatura, tal
como lhes chamou o insuspeito Marques Mendes, não para de nos tramar.
Como escreveu, hoje,
Ana Sá Lopes, no jornal I:
O Presidente da
República cometeu um grave erro quando, depois de num primeiro momento ter
manifestado desconfiança na solução avançada pelo PSD e CDS para a crise na
coligação, não convocou eleições antecipadas no Verão. A “confiança” e a
“solidez” quebraram-se para nunca mais voltar. Pedro e Paulo vão continuar a
odiar-se em privado e já não o conseguem esconder convenientemente em público.
As respectivas cortes estão tão acirradas como na semana que se seguiu à
demissão de Vítor Gaspar. E não existe limite para a “falta de escrúpulos”:
quando o Orçamento for público, ele revelar-se-á em todo o seu esplendor.
Ou José Pacheco
Pereira:
Será que o
Presidente ainda não entendeu que não tem governo, tem um ajuntamento de
conveniência em que os egos, as vinganças, as rasteiras, o salvar a sua própria
pele são a regra e a motivação de todos os dias? Antes o cancro do governo era
Relvas, hoje é Portas, mas em ambos os casos a primeira responsabilidade é de
Passos Coelho e Cavaco Silva. E visto a voo de pássaro tudo parece
desconjuntado, como efectivamente é. Pobre país, o nosso.
Pelo
meio, Rui Machete ainda não se demitiu nem foi demitido, na Europa, a extrema-ganha
cada vez mais espaço e, nos finalmente, o governo de adolescentes e imaturos, entregará, amanhã, na Assembleia da
República a proposta de orçamento para o ano que vem, ano velho, tão velho e triste como os
últimos que nos têm acontecido.
Num outro contexto,
corria o ano de 1960, o poeta António Ramos Rosa, num telegrama sem classificação especial, gritou: Estamos nus e gramamos.
Nos dias de hoje,
passado o tempo que passou, o grito de António Ramos Rosa é uma verdade tão nua
como crua:
Estamos nus e
gramamos.
Na grama secular um
passarinho verde
canta para um poema
lírico, para um poeta lírico,
que se nasceu
é certo que não
cantou.
As paisagens
continuam a existir.
As paisagens são
suaves.
Continuam também a
existir
outras coisas
que dão matéria
para poemas.
A vida continua.
Felizmente que há
ódios, comichões, vaidades.
A estupidez, esta
crassa crença intratável, esta confiança indestrutível em si em si mesmo,
é o que felizmente
dá uma densidade, uma plenitude a isto.
Num mundo
descoroçoante de puras imagens
é bom este banho de
resistências, pressões, vontades, atritos,
é bom navegar.
porque este
presente é logo saudoso.
Na grama um
passarinho canta.
Evidentemente que o
poeta suicidou-se.
A vida continua.
Certas coisas que
pareciam mortas
estão agora vivas
ou, pelo menos, mexem-se.
Ausentes,
dominam-nos.
Não é para nós que
utilizam as palavras,
que insistem,
não é para nós!
Estes grandes
ornamentos, estes sábios discursos
fluem em visões, em
ondas, como se não no presente.
Ter-se-á o presente
extinguido?
A vida continua tão
improvavelmente.
Na grama um
passarinho canta.
Canta por cantar,
ou não, canta.
Eu poderia, com
rigor, agora
cantar:
Os anjos exactos
que empunham tesouras
de encontro aos factos
- ó minhas senhoras!
Ou rigorosamente
ainda,
com veemente
exactidão,
inutilizar o poema,
todos os poemas
porque
Estamos nus e
gramamos.
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