Fora da política, Cunhal deixava uma impressão indelével em
todos aqueles com quem se cruzava na vida, pela facilidade no trato e,
sobretudo, pela simplicidade e sentido de humor que revelava nas relações com
os outros. Joshua Ruah fala das boas memórias que tem do antigo paciente,
aludindo a uma conversa que tiveram numa das consultas: Perguntei-lhe uma vez:
«Ó sotôr, porque é que… o sotôr desculpe lá, já estamos nisto aqui há tantos
anos… porque é que o sotôr tem uma imagem tão dura, tão política, e depois é
uma pessoa afável e até carinhosa na maneira de falar, enfim diga-me lá
porquê?» E ele disse: «Não, eu sou sempre o mesmo. Olhe, até costumo ir para a
praia de Monte Gordo e vou sempre para a praia, dizem que eu tenho
guarda-costas, que eu tenho não sei quê… Não eu vou com a minha companheira
para a praia e sentamo-nos ali, com o chapéu-de-sol e tal, e aquilo que
acontece é que as pessoas passam e uns conhecem-me e falam, outros olham e
dizem ”Este velho é tão parecido com o Cunhal”». Isto disse-me ele a rir. Isto
é de uma pessoa completamente fantástica.
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