Usava o cabelo, enquanto o teve, penteado para trás,
bem fixo por causa da brilhantina (hoje, chama-se gel, abreviatura de geleia)
que o segurava; a testa subia acima de uns olhos enormes, castanhos, de luz
intensa e os lábios que desenhavam a boca eram muito, muito sensuais. A sua
expressão de olhar era o que realçava a sua presença, estivesse ele onde
estivesse. Imagino, pois, esse mesmo olhar numa expressão amorosa! Mesmo na sua
velhice, que foi longa, fisicamente, qualquer pessoa que com ele estivesse
conversando, deverá lembrar-se, por certo, desse olhar que prendia, que envolvia
como num abraço muito quente, que adivinhava e interpretava para além do que
era mais nítido e imediato. Eram surpreendentes, as conversas com os seus
olhos.
Eram também belíssimas e faladoras, as mãos. Seria difícil
não olhar para elas e não as apreciar.
Cristina
Carvalho em Rómulo de Carvalho/António Gedeão, o Príncipe Perfeito
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