Hoje, dia de Natal (que notícia mais estranha, ouvida
a olhar para o pinheiro), morreu a alegria ela mesmo, a melancolia ela mesmo, a
esperança ela mesmo, a geometria exacta do lirismo: morreu Charlie Chaplin.
Realmente, só faltava esta: morrer o Chaplin. Não era possível, realmente,
descobrir notícia mais interessante, realmente, para dar no dia de Natal, do
que nos virem dizer que morreu o Chaplin. O que vale, menino, é que já nada nos
surpreende.
Cá por mim, íntimo de Charlot até à última costela,
que passei com ele as passas do Algarve, já nem ligo. O meu amigo Charlie,
ninguém o mata. É o matas. Seria matar esta gargalhada que ainda hoje dou, esta
fraternidade de estar de pé, para estar de pé. Nisso, sou intransigente.
Ninguém mata o Charlot porque não quero. Ninguém mata as luzes da cidade,
ninguém mata as quimeras de oiro.
Estou aqui para defender esta ideia, defendê-la contra
a morte. Nem que tenha de pedir a pistola emprestada ao Bogart, nem que tenha
de não sei quê.
Porque é isto que resta do meu sonho americano.
Dinis Machado em
O Lugar das Fitas
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