O Elogio da Loucura
Erasmo de
Roterdão
Tradução: Berta
Mendes
Prefácio e
Notas: Manuel Mendes
Ilustrações:
Holbein
Colecção Cosmos
nº 80/81
Cosmos, Lisboa, Março
de 1945
Na realidade, que é a vida?, se lhe tirardes os
prazeres? Merece, então, o nome de vida? Aplaudi-me, meus amigos. Ah! eu sabia
que éreis demasiadamente loucos, isto é, demasiadamente sábios, para não serdes
da minha opinião… Os próprios estóicos amam o prazer; não o saberiam odiar. Bem
dissimulam, bem tentam difamar a volúpia aos olhos do vulgo, cobrindo-a das
injúrias mais atrozes, mas isso não passa de simples esgares, pois tratam de
afastar os outros, para eles próprios a poderem gozar com maior liberdade. Mas,
em nom de todos os deuses, dizei-me, então, qual é o instante da vida que não é
triste, aborrecido, enfadonho, insípido, insuportável, se não for misturado com
o prazer, isto é, com a loucura. Podia contentar-me com o testemunho de
Sófocles, esse grande poeta, jamais suficientemente louvado, e que de mim fez
um tão belo elogio, quando disse:
A vida mais agradável é a que se vive sem espécie alguma de prudência.
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