O Uivo do Coiote
Entrevistas
Luiz Pacheco
Prefácio: Acácio
Barradas
Capa: Paulo
Curto
Contraponto,
Setúbal, Fevereiro de 1997
Uma vez pediu ou
pensou pedir uma bolsa à Gulbenkian para uma biografia do Bocage. Não escreveu
isso?
Não, para isso nunca. Pedi uma bolsa à Gulbenkian e
disseram-me que não era costume dar bolsas para escritores; já houve essa
discussão, só há bolsas para pintores. A conversa do costume, que «era
estimular a preguiça», mas para mim, como «não era exigente», talvez se
arranjassem dois ou três contecos por mês. Eu nessa altura quase não via nada e
precisava de uns óculos, pensei então que, em vez de dois contos, podia pedir
para os óculos. Faço então uma petição à Gulbenkian para pagarem os óculos, com
uma grande choradeira, que estava quase ceguinho… Eu com estes já só consigo
ler o «Estrela-Gomes Freire» a 30, 20 metros. Passados dois meses mandaram-me
um conto de réis, porque eu podia esperar. Agarro numa fotocópia da petição,
saio do Curry Cabral e vejo numa montra o Padre Cruz e santinhos e um postal do
Sousa Martins, que é o «santo» do Campo Santana, e mando ao perdigão a cópia a
dizer: «Pedi para aí uma bolsa já há tantos meses, para uns óculos, que estou
quase cego. Já me agarrei ao São Calouste, ao São Perdigão, vamos lá a ver se
agora o Sousa Martins me faz o milagre.» Carta registada, aviso de recepção.
Tive como resposta um pedido para enviar o orçamento do oculista, «sem
compromisso desta Fundação». Empenhei uns binóculos que tinha, fui ao médico,
passou-me a receita e fui ao Pereira do largo do rato. Fizeram-me o orçamento.
Fiquei a saber que não foi a Fundação, mas o Presidente, que pagou o0s 35
contos e quinhentos por estes óculos, italianos. Disseram-me que ele tinha um
fundo pessoal para essas coisas.
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