terça-feira, 13 de dezembro de 2016

OLHAR AS CAPAS



O Uivo do Coiote
Entrevistas

Luiz Pacheco
Prefácio: Acácio Barradas
Capa: Paulo Curto
Contraponto, Setúbal, Fevereiro de 1997

Uma vez pediu ou pensou pedir uma bolsa à Gulbenkian para uma biografia do Bocage. Não escreveu isso?

Não, para isso nunca. Pedi uma bolsa à Gulbenkian e disseram-me que não era costume dar bolsas para escritores; já houve essa discussão, só há bolsas para pintores. A conversa do costume, que «era estimular a preguiça», mas para mim, como «não era exigente», talvez se arranjassem dois ou três contecos por mês. Eu nessa altura quase não via nada e precisava de uns óculos, pensei então que, em vez de dois contos, podia pedir para os óculos. Faço então uma petição à Gulbenkian para pagarem os óculos, com uma grande choradeira, que estava quase ceguinho… Eu com estes já só consigo ler o «Estrela-Gomes Freire» a 30, 20 metros. Passados dois meses mandaram-me um conto de réis, porque eu podia esperar. Agarro numa fotocópia da petição, saio do Curry Cabral e vejo numa montra o Padre Cruz e santinhos e um postal do Sousa Martins, que é o «santo» do Campo Santana, e mando ao perdigão a cópia a dizer: «Pedi para aí uma bolsa já há tantos meses, para uns óculos, que estou quase cego. Já me agarrei ao São Calouste, ao São Perdigão, vamos lá a ver se agora o Sousa Martins me faz o milagre.» Carta registada, aviso de recepção. Tive como resposta um pedido para enviar o orçamento do oculista, «sem compromisso desta Fundação». Empenhei uns binóculos que tinha, fui ao médico, passou-me a receita e fui ao Pereira do largo do rato. Fizeram-me o orçamento. Fiquei a saber que não foi a Fundação, mas o Presidente, que pagou o0s 35 contos e quinhentos por estes óculos, italianos. Disseram-me que ele tinha um fundo pessoal para essas coisas.

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