São conhecidas
as dificuldades económicas com que alguns escritores portugueses viveram nos
idos do século passado.
Pela
correspondência trocada entre si, são inúmeros os lamentos de Jorge de Sena,
José Rodrigues Miguéis, ambos no exílio, e António Ramos Rosa que nunca saíu de
Portugal,
Exemplos:
«Quanto aos pagamentos, voltaremos ao acordo de
prestações mensais? Não consegui resolver o problema que aí me levou, e estou
cada vez mais pobre…»
«Confiando na sua generosidade, venho pedir-lhe que me
empreste, durante o prazo que quiser determinar e que eu cumprirei à risca,
alguns números de critique que infelizmente não estou em condições de poder
assinar apesar do seu preço módico.»
«Não, Rosa, eu
não assino nada (nem pude ainda renovar a assinatura da Critique),, e mal
compro um livro – se o dinheiro nem me chega e a família passarmos ao mês
seguinte!»
Num interessante
trabalho da jornalista Catarina Carvalho, publicado na revista Ler nº 37 Primavera/Verão
de 1997, sobre o dinheiro e os escritores, Luiz Pacheco, no seu modo único de saber
experiência feito, disse:
«Só faz bem passar fome.»
Escreve a
jornalista:
«Pacheco não está rico porque se recusou fazer
concessões. Nunca ganhou com os livros dinheiro suficiente para viver, mas
também nunca aceitou que nada lhe roubasse o tempo da escrita, «Só faz bem
passar fome.» Chama-lhe «acreditar no que se faz»: «Se não temos consideração
pelo nosso trabalho não temos consideração por ninguém.»
Referindo
António Ramos Rosa, a jornalista lembra que, apesar de ter publicado setenta e
oito títulos (números de 1997), o autor nunca ganhou propriamente dinheiro com
os livros. Recebia cento e trinta contos de subsídio de mérito cultural, fazia
traduções, dava explicações.
O artigo termina
assim:
«O luxo dos livros. Ramos Rosa tinha fiado na Bucholz
e nas várias livrarias do Campo grande por onde passava todos os dias, «para
ver as novidades». No entanto, a maior quantia que terá gasto alguma vez foi na
Livraria Barata onde entrou depois de receber o Prémio pessoa em 1988. Com
livros empilhados chegou à caixa e pagou por eles cerca de cem contos. Sorria.
Usou o dinheiro como sempre achou que o dinheiro havia de ser gasto: esbanjado
em prazer.»
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