15-1-63
No domingo de manhã enquanto no recreio vieram trazer
um preso. Um homem magro, calmo, com uns calções azuis vestidos por cima dumas
calças de fazenda enroladas quase até aos joelhos, camisa de zuarte. Sentou-se
no passeio tirou um cigarro e começou a fumar. O Viriato chamou o 121 e começou
a revista. O 121 nestes casos vai sempre chamando «bandido» e «terrorista» etc.
e fazendo perguntas. Era padeiro, enfornador. Mandaram-no pôr de pé, levantar
os braços segurando a fralda da camisa. Naquela posição começou uma busca minuciosa
pelos bolsos primeiro, vendo a carteira, os documentos, o 121 a querer ficar já
com uma lapiseira. Depois mandaram tirar a camisa que foi atirada para o chão
assim como os calções, não sem que 1º tivessem sido vistos pelo Viriato. Assim,
descalço só com as calças arregaçadas, de braços no ar, o homem piscava os
olhos para o sol que lhe batia na cara, enquanto pachorrentamente o 121 desarregaçava-lhe
as pernas, perna por perna, apalpando as bainhas… Depois foi o Viriato que
tirando-lhe o cinto começou a apalpar minuciosamente a costura das calças,
arrancando-lhe os botões e desfazendo o cinto de pano (não sei como se chama)
onde encontrou escondidos 100$00 que meteu na carteira junto com as restantes
coisas e foi guardar na arrecadação. O 121 mandou então o homem descer as
calças e apalpou-o debaixo dos testículos.
E assim ficou, quieto, sem olhar para eles, o homem a
bater os olhos com o sol que lhe dava em cheio na cara cheia de rugas, imóvel.
Depois como já não há mais lugar na cadeia, o Viriato mandou-o fechar na casa
de banho.
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