E sempre a avançar sem se demorara em lado algum, nem
na montra de uma loja nem em cumprimentos de esquina ou pequena conversa de
bairro. A sua figura alta, de passos longos e firmes, era extremamente
agradável à vista e vi, eu vi, muitas vezes, pessoas a olhar para ele. Ele a
passar e alguém a reparar. Depois, lá regressava a casa, à hora do almoço. E
terminada a refeição lá ia outra vez para o liceu e no fim da tarde voltava.
Sempre a pé. Sempre e sempre a pé fizesse frio ou calor, fosse noite ou fosse
dia. Rómulo evitava os transportes públicos, não tinha automóvel nem sequer
carta de condução. Percorreu quilómetros sem fim nesta cidade de Lisboa para
todo o lado onde podia deslocar-se a pé.
Houve um período em que todos os domingos da parte da
tarde saía com a sua máquina fotográfica a tiracolo. Demorava-se umas horas. E
um dia, apareceu publicado um grande livro, um álbum chamado Memória de Lisboa.
Entre tantas das suas notáveis e diversas atividades, Rómulo foi também
fotógrafo amador e, da cidade de Lisboa, que tanto amou, desde a Sé à Torre de
Belém, de Alcântara ao cais das Colunas, guardou todas as imagens possíveis do
seu rio Rejo. Das ruas, de monumentos, de pormenores, de pessoas, da luz de
todos os dias, dos pingos da chuva no calcário dos passeios.
Cristina Carvalho
em Rómulo de Carvalho/António Gedeão, Príncipe Perfeito
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