JL - O Alberto
Seixas Santos tem um belo texto sobre ti no catálogo da Cinemateca, no qual
afirma: «O mundo de Fernando Lopes não é alegre».
FL – Nem podia ser. Se pensares no que foi a minha
vida… Fui salvo in e xtremis aos 4 anos de idade…
JL – Porque a
tua mãe se piorou do teu pai e trouxe-te com ela.
FL – Foi. E eu sempre tenho tentado sobreviver a
desgraças. A minha força, se calhar, é essa. Não vou ter nunca condições para
poder fazer musicais, que era o sonho da minha vida. E era porque quando vim
para Lisboa, aos 14 anos, trabalhar como paquete da empresa Durand Garcia &
Companhia, aqui neste edifício onde estamos, o do Restaurante Comodoro, no
Largo D. João da Câmara, era pelo sonho que eu me salvava. Indo ao São Luiz ver
filmes musicais da MGM. Daí que haja cineastas que eu adore, como o Vincente Minelli (1906-86). Parece esquisito,
num tipo como eu que nunca faz nada disso, mas nessa altura o sonho
compensava-me do mundo nada alegre em que vivia, à boleia nos eléctricos, a
fugir à polícia, inso às sessões duplas do cinema. O Seixas tem razão: o meu
mundo não é alegre. Mas ter sobrevivido a isto tudo é um bom sinal de vida. Ou
seja: se tu combates, se tu te bates até ao fim, talvez consigas modificar
alguma coisa. Às vezes não consegues, outras consegues, mas nunca te podes
deixar ir abaixo.
Fernando Lopes
entrevistado por Rodrigues da Silva, Jl 3 de Abril de 2002
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