terça-feira, 19 de janeiro de 2021

OLHAR AS CAPAS

O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas

José Tolentino Mendonça

Capa: Rui Rodrigues

Quetzal Editores, Lisboa, Outubro de 2020

Pensemos na figura do pai. Os estereótipos culturais, os resíduos de modelos autoritários, os tiques marialvas ou a timidez afastam os pais da palavra aberta e sentida, da confidência ou de expressões de afecto tão básicas como um abraço. A maior parte de nós não chega a dizer ao pai como o ama, nem a escutar da parte dele qualquer coisa semelhante. E esse silêncio tem um custo com o qual, depois, por muito tempo lutamos. É como se já em vida dos pais vivêssemos uma orfandade simbólica.

Um dos clássicos da literatura europeia é a Carta ao Pai, de Franz Kafka. É um libelo, de acusação e culpa, que espelha o dilacerante processo interior em que Kafka viveu. Cresceu à sombra do pai, mas transportando este nó terrível: por mais que fizesse, jamais corresponderia às suas exigências.

A nossa cultura tem praticado, talvez com razões, mas certamente sem razão, uma demolição sistemática da figura do pai, deixando em nós um vazio que nada consegue colmatar. A figura do pai precisa, por isso, de ser recuperada.

1 comentário:

Seve disse...

KAFKA-Um monumento em pedra da literatura.

"O PROCESSO"-foi o livro que mais me impressionou até hoje, deixando-me completamente atónito, siderado, esmagado, completamente zonzo.

Franz Kafka uma personagem absolutamente inenarrável.
Não tenho adjectivos para o definir.