Algumas das estantes da Biblioteca da Casa guardam livros em francês e inglês. Nunca me entendi com o francês. Nos meus tempos de rapaz havia uma lengalenga: «Era uma vez/Um gato maltês/Tocava piano/E falava francês/Queres que te conte outra vez?/Era uma vez/Um gato maltês/Saltou-te às barbas/Não sei que te fez/Queres que te conte outra vez?»
O inglês sempre foi de «marinheiro
Cais-do-Sidré» e nunca deu ler livros.
O meu pai, também o meu avô, é que se entendia com o Francês. O meu avõ chegou a traduzir romances de
Anatole France que nos deixou em cadernos pautados escritos à mão. Também fazem
parte da Biblioteca da Casa. Um dia se falará desses cadernos.
Este livro de Poemas de Baudelaire
pertence à Colecção Flambeu, textos dos melhores escritores, editada pela Livraria
Hachette, Paris 1951.
O meu pai, após almoços/jantares bem
regados, amiúde citava Baudelaire: «no fundo das garrafas vazias fica sempre
uma tristeza cinzenta.»
Copio agora o poema Le Vin des Amants, do livro com o mesmo nome, que está incluído
nesta Antologia de Baudelaire.
Aujourd’hui
l’espace est splendide !
Sans mors, sans éperons, sans afrontamento
Partons à cheval sur le vin
Pour un ciel féerique et divin !
Comme
deux anges que torture
Une implacable calenture,
Dans le bleu cristal du matin
Suivons le mirage lointain !
Mollement
balancés sur l’aile
Du tourbillon intelligent,
Dans un délire parallèle,
Ma
soeur, côte à côte nageant,
Nous fuirons sans repos ni trêves
Vers le paradis de mes rêves !
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